O regresso de um ícone
Poucos dias depois de chegar aos escaparates Future Chaos, um novo álbum do colectivo Bomb The Bass, eis que se aplaude outro recomendável regresso após longa ausência. Longe dos discos, mas não dos palcos, desde o menor Bulletproof Heart (álbum editado em 1989), Grace Jones rompe agora o silêncio com um disco que contraria inteligentemente, e em toda a linha, a lógica oportunista do “cartão-de-visita” para operação de nostalgia que tem acompanhado a esmagadora maioria das agendas de reentrada em cena de músicos e grupos veteranos.
Apesar de querer vincar um presente vivo, Hurricane não aposta numa lógica de ruptura. Até porque não renega as principais marcas de identidade que fizeram os melhores dias (e discos) da obra de Grace Jones. Mas faz questão de trazer a sua marcante personalidade para os dias de hoje. Apesar de tranquilo nos climas sugeridos, é um disco irreverente nas palavras, versátil nas linguagens e atento à uma ideia que acredita no diálogo da canção com linguagens electrónicas e os universos do dub, aqui estabelecendo pontes directas com a memória da histórica trilogia que gravou, nas Bahamas, em inícios dos anos 80. A dupla Sly & Robbie, que marcou determinante presença em discos como Warm Leatherette ou Nightlife surge de resto na proa de uma lista de colaboradores na qual se destacam nomes como os de Brian Eno ou Tricky.
Editado em pleno Verão, o single aperitivo Corporate Cannibal lançou expectativas que o alinhamento de Hurricane agora confirma. Aos 60 anos, Grace Jones retoma a história onde a deixara. Veste novamente a persona que dela fez ícone. E a ela junta, em algumas das canções, um inesperado e aparentemente franco olhar pessoal, autobiográfico, que garante não estarmos perante nova encenação de uma velha personagem mas antes frente ao estado presente de uma figura com lugar demarcado na história da música pop.
4/5
Hurricane
GRACE JONES