O reencontro ambiental de Brian Eno

Regressando aos princípios fundamentais de uma noção de música ambiente que ele mesmo ajudou a criar nos anos 70, Brian Eno traz-nos em 'Lux' o seu melhor álbum instrumental desde 'Thursday Afternoon'.
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Título: 'Lux'

Artista: Brian Eno

Editora: Warp Records

Classificação: 4 / 5

Apesar do importante trabalho como produtor (entre os U2 ou James, entre outros mais), da sua passagem por uns Roxy Music ainda em inicio de carreira e da edição de quatro magistrais álbuns de canções editados a solo nos anos 70, Brian Eno será provavelmente recordado um dia pela memória da sua determinante contribuição para a criação do espaço a que se veio a chamar música ambiente. Com primeira visão lançada em 1975 em Discrete Music e paradigma de referência encontrado em 1978 em Music For Airports, Eno concentrou a maior parte dos seus esforços nos últimos 35 anos em volta da exploração das potencialidades destes caminhos na música (e na sua relação com os espaços e as imagens). Porém, há muito que um disco instrumental (ambiental) seu não rompe o relativo mar de tranquilidade em que parte dessa face da sua música se instalou nos últimos anos. E se repararmos, os seus feitos maiores nos últimos anos aconteceram ou na forma de um álbum vocal a solo (Another Day On Earth, de 2005) e de colaborações como as que registou em Everything That Happens Will Happen Today (com David Byrne, em 2008) ou Drums Between The Bells (com Rick Holland, em 2011). Lux, o novo disco que acaba de lançar, representa por isso a melhor das suas surpresas 'ambient' em largos anos. Na verdade, desde os célebres Apollo: Atmospheres & Soundtracks (1983) e Thursday Afternoon (1985) que não o encontrávamos tão em sintonia com os princípios estruturais que ele mesmo definiu para a sua visão ambiental em finais dos anos 70 e, convenhamos, tão inspirado. Reaproximando-se dessa matriz ambiental, tomando o piano (e o som da reverberação das suas notas) como elemento central. Lux redescobre um mesmo sentido minimalista de espaço e cor. A música que aqui ouvimos - dividida em quatro partes - foi criada para uma intervenção numa galeria em Turim e, tal como sucedera com Music For Airports, teve primeira audição no espaço de um aeroporto (o de Haneda, em Tóquio). A música que aqui encontramos é toda ela feita de linhas suaves, entre ecos e reverberações que se diluem entre si e sugerem uma teia de sons, das quais por vezes emergem breves fraseados que logo se dissipam... Um contraponto ao ritmo da vida no presente. Pede tempo, joga pelo contraste. Pode não trazer nada de novo. Mas há muito que Brian Eno não era tão... Brian Eno.

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