O líder socialista espanhol, Pedro Sánchez, desbloqueou em menos de 48 horas aquilo que nos seis meses anteriores tinha parecido impossível: um pré-acordo com a Unidas Podemos, de Pablo Iglesias, para formar um governo de coligação. Mas para voltar à Moncloa como primeiro-ministro (e não apenas como interino) precisará não só de afinar os pormenores do acordo, nomeadamente em relação aos ministérios que entregará ao novo aliado, mas também de conseguir a luz verde de outros partidos. Nem que seja a abstenção..PSOE (120 deputados) e Unidas Podemos (35, incluindo alianças regionais) só têm 155 votos e precisam de uma maioria absoluta de 176 "sins" para conseguir a investidura de Sánchez na primeira votação. Na segunda, contudo, só precisam de mais "sins" do que "nãos", sabendo que a direita tem 153 deputados e está nesta última opção. O Partido Popular elegeu 89 (ganhou um ao Partido Nacionalista Basco graças aos votos do estrangeiro) e só mostra abertura se Iglesias não fizer parte da equação. O Vox tem 52 representantes no Congresso dos Deputados e o Ciudadanos tem dez. O Navarra Soma, a aliança da União do Povo de Navarra, do PP e Ciudadanos nesta região, elegeu outros dois..No Congresso com maior número de formações políticas (18) na história da democracia espanhola, quem poderá ajudar a desbloquear as contas da investidura? E o que é que Sánchez terá de prometer para conseguir o apoio dos restantes partidos?.Esquerda Republicana da Catalunha..13 deputados. Vota "não", para já.A abstenção dos independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) é a chave para facilitar este processo, mas após uma primeira reunião com os socialistas, na quinta-feira, estes mantêm o seu "não". Mas mostram-se abertos a continuar os contactos. Após o encontro entre a porta-voz socialista no Congresso, Adriana Lastra, e o seu homólogo da ERC, Gabriel Rufián, Sánchez deixou o aviso: "Aqueles que se opõem ao governo progressista do PSOE e da Unidas Podemos terão de explicar que solução propõem, que alternativa querem", afirmou, lembrando que um dos pontos do pré-acordo que assinou na terça-feira com Iglesias inclui a "vontade de diálogo dentro da legalidade" na Catalunha..Para a ERC, cujo líder Oriol Junqueras foi condenado a 13 anos de prisão por peculato e sedição na organização do referendo independentista de 1 de outubro de 2017, é pouco. "Durante a conversa não houve qualquer indício de que o PSOE vá abandonar a via repressiva para enfrentar o conflito político existente entre Catalunha e o Estado. Sem garantias, não poderá haver em nenhum caso uma mudança de postura da ERC no Congresso", disseram em comunicado. A sua ideia é a "resolução política do conflito através de uma mesa de negociação"..Junts per Catalunya.8 deputados. "Não", mas quer falar.A posição do partido do ex-presidente da Generalitat Carles Puigdemont, autoexilado em Bruxelas à espera de uma decisão da justiça belga sobre uma eventual extradição, é mais extremada. "Nada de votos grátis para Sánchez", defendem, optando pelo "não". "Enquanto houver presos, exilados, pessoas alvo de represálias e não se puder falar do direito de autodeterminação, é evidente que nós não podemos permitir a investidura de Sánchez", disse a líder do Junts per Catalunya no Congresso espanhol, Laura Borràs. Mas asseguram estar abertos "ao diálogo e à negociação"..Partido Nacionalista Basco.6 deputados. "Sim" quase certo.O "sim" dos nacionalistas bascos é, à partida, mais fácil de garantir, visto que os socialistas já são sócios do governo do lehendakari Iñigo Urkullu no País Basco. O partido disse que será "responsável e construtivo", alegando que só votaria "não" numa investidura completamente contrária aos seus princípios, apesar de criticar a "velocidade" do acordo entre Sánchez e Iglesias. Urkullu falou da necessidade de um "cordão sanitário" em torno do Vox..Em relação às reivindicações, o lehendakari exigiu que o futuro governo dê prioridade ao cumprimento íntegro do estatuto basco e à retoma do calendário de transferências financeiras já acordado após as eleições de abril, o qual ficou bloqueado com a repetição eleitoral..EH Bildu.5 deputados. Faz exigências.Em abril, os independentistas bascos de Arnaldo Otegi disseram que "parariam gratuitamente a direita", mas agora querem que Sánchez diga "como vê o problema nacional basco, catalão ou galego ou a situação dos presos" da ETA (reclamam a sua transferência para as prisões bascas). Ainda assim, deixou claro que seria um erro do Bildu votar "não" à investidura, ao lado do PP e do Vox. Otegi defende um verdadeiro "processo democratizador", para evitar que a direita volte em breve ao poder..Más País..3 deputados. "Sim" é quase certo.O novo partido à esquerda, criado pelo ex-Podemos Íñigo Errejón, ficou aquém do resultado que desejava, não tendo eleito deputados suficientes para ter o seu próprio grupo parlamentar (cinco deputados). Elegeu dois, aos quais se soma o eleito pelo Compromìs, de Valência. Já na campanha, Errejón mostrou-se a favor de um governo progressista de esquerda. "Saudamos o pré-acordo e trabalharemos para que some uma maioria", disse no Twitter..Candidatura de Unidade Popular.2 deputados. "Não", mas com reservas.O independentismo catalão antissistema da Candidatura de Unidade Popular (CUP) estreia-se no Congresso e será difícil darem o seu aval a Sánchez. "Não partilhamos o pré-acordo entre PSOE e Unidas Podemos nem a ideia de que "não há alternativa". A esquerda não pode comprar uma proposta de mínimos, esquecendo que a alternativa real passa pelo reconhecimento da autodeterminação, a amnistia e os direitos sociais", disse a deputada Mireia Vehí..Coligação Canária-Nova Canárias.2 deputados. Não vão bloquear.As duas formações, que concorreram numa aliança, anunciaram que não vão bloquear a investidura de Sánchez. Mas exigem o cumprimento dos direitos reconhecidos às ilhas. José Miguel Barragán, líder da Coligação Canária, e Román Rodríguez, da Nova Canárias, dizem que não vão estar do lado do bloqueio. Ainda na campanha, Barragán dizia que um governo PSOE com o Podemos era uma linha vermelha que não passaria..Partido Regionalista da Cantábria.1 deputado. O primeiro "sim" à aliança.O secretário-geral do Partido Regionalista da Cantábria, Miguel Ángel Revilla, foi o primeiro a confirmar o "sim" ao acordo de governo entre Sánchez e Iglesias. Em abril, tinha sido o único voto positivo no líder socialista, fora do próprio PSOE. Depois da garantia de que os termos do acordo que então estabeleceu com Sánchez permanecem intactos - nomeadamente no que diz respeito à conclusão da linha de alta velocidade e reparação de estradas - e que não haverá concessões aos independentistas, disse que não terá problemas em fazer agora o mesmo..Bloco Nacionalista Galego.1 deputado. Próximo do "sim"."O voto do Bloco Nac ionalista Galego vai estar condicionado a que haja um compromisso claro com uma agenda galega", disse Ana Pontón, líder do partido que regressa ao Congresso após quatro anos de ausência. O partido já mostrara abertura para que exista um "governo de progresso", apesar de ter criticado que não tenha havido acordo logo em abril..Teruel Existe!.1 deputado. "Sim", mas com garantias.A aliança de eleitores, que se estreia no Congresso à primeira candidatura, está disponível para apoiar o governo de Sánchez e Iglesias, mas quer um compromisso "por escrito" para desbloquear projetos na província de Teruel, nomeadamente a nível de caminhos-de-ferro e autoestradas..CALENDÁRIO.3 de dezembro Os deputados eleitos a 10 de novembro assumem o seu cargo. Consultas do rei Felipe VI pode receber os partidos a partir de 4 de dezembro, mas, como há dois feriados - 6, Dia da Constituição, e em Madrid no dia 9, referente ao Dia da Imaculada Conceição da véspera -, as consultas podem alargar-se. Sánchez será convidado pelo rei a submeter-se à investidura..Debate de investidura Caso Sánchez já tenha concluído os acordos, pode ocorrer a 16 de dezembro, com a primeira votação no dia seguinte. A segunda votação, onde só precisa de mais "sins" do que "nãos", seria 48 horas depois, a 19 de dezembro..Posse Se conseguir passar essa etapa, Sánchez pode tomar posse logo a 20 de dezembro, um presente de Natal antecipado e antes do final do ano, como disse querer. Se não, desde a primeira votação terá de correr o prazo de dois meses para outra tentativa de investidura e eventual nova ida às urnas.