O que queres ser quando fores grande?

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Há certas perguntas que os adultos insistem em fazer às crianças. Numa primeira fase, estas riem-se muito e dizem bombeiro, polícia, futebolista ou astronauta. Uma criança nunca quer ser engenheiro, médico nem, muito menos, advogado. Nenhuma dessas profissões parece ser suficientemente divertida e excitante.

Depois, um pouco mais crescidas, a profissão dos pais começa a ter alguma influência nas respostas. Ainda que nem sempre no sentido mais previsível. Lembro-me de uma criança que na escola dizia que queria ser "turista", tal como a mãe, ainda que esta na realidade fosse "jurista". Ou que queria ser médico, como o pai, mas sem doentes, porque estes são "uns chatos, que não param de telefonar". Pior ainda, "quero ter qualquer profissão menos a dos meus pais, que nunca param em casa".

Finalmente, vem a fase em que os jovens respondem à pergunta dos adultos com um revirar de olhos, ao qual anexam, quando têm boas maneiras, um sorriso bem amarelo. Não há paciência (e nós sabemos que, entre os adolescentes, esta é uma virtude bem escassa)!

Não têm culpa. É que os adultos conseguem ser realmente insistentes. A pequenada, durante os melhores anos da sua vida, teve de responder à mesmíssima pergunta largas dezenas de vezes. Ora, sem aviso prévio, a famigerada pergunta, além de ter perdido a pouca graça que ainda tinha, tornou-se numa coisa muito séria. Por vezes angustiante. E, precisamente nesse momento, quase nenhum adulto - incluindo os pais - tem algo de relevante para dizer.

É uma injustiça. Uma constrangedora injustiça. Tanto mais que todos nós somos bombardeados de tempos a tempos com notícias a dizer que "uma licenciatura já não garante emprego", ou "aumenta o desemprego entre os licenciados", ou ainda "licenciados ganham 500 euros". Isto é, sortudos porque têm emprego. Mas desgraçados porque não passam da cepa torta.

Como escolher, então, a licenciatura a fazer? E a profissão que eventualmente se vai ter?

Sublinhando aqui a grosso o "eventualmente" - porque o futuro, muitas vezes, insiste em ter vontade própria -, há cinco grandes critérios que podem ser seguidos.

1. Vai atrás da tua namorada ou namorado. Este critério apresenta bastante bons resultados e tem feito muita gente feliz! Tem ainda a vantagem de, a médio prazo, gerar novas vítimas para a pergunta da praxe: "o que queres ser...". Se não tiveres namorado ou namorada, podes ir atrás daquele ou daquela que gostarias que viesse a ocupar essa posição na tua vida. Mas aí os resultados baixam bastante. É capital de risco. Convém, por isso, não apostar as fichas todas numa só casa, porque também tem havido outcomes verdadeiramente catastróficos!

2. Segue a tua vocação. Ou aquela que achas que é a tua vocação. Se não fazes ideia de qual é ela, esquece este critério. Não insistas mais neste ponto e, sobretudo, nunca faças testes vocacionais. Pura perda de tempo. A mim, depois de dois dias de verão enfiado numa sala a responder a perguntas tolas, deu-me "que podia fazer o que quisesse!". Se não "tens" apenas uma vocação, mas "sentes" vocação de verdade, inscreve-te já em Teologia e ficamos por aqui.

3. Segue o conselho dos teus pais. Nah! Nem vale a pena explicar. Se os teus pais têm um conselho para te dar, acende-se logo uma luz vermelha algures. Não é bom sinal. O melhor conselho que os teus pais te podem dar é "faz o que achares melhor, que nós cá estaremos para te dar força". É para isso que os pais servem. Se eles tiverem dúvidas sobre a sua função, esclarece-os da forma mais delicada que conseguires.

4. Escolhe uma licenciatura que te permita fazer muitas coisas diferentes na vida. Um curso que, como se diz agora, seja de "banda larga". Não é "manga larga", que isso está out como sabes melhor do que eu. Agora usa-se tudo mais para o apertado. Exemplo típico de curso de banda larga é Direito, que dá para seres advogado (opção mais evidente, mas com muitas variantes), mas também juiz, procurador do Ministério Público, diplomata, jornalista, gestor, político, consultor, professor (de Direito, pois claro) e para mais umas quantas coisas estranhas. E que tanto dá para fazer carreira cá dentro, como para ir trabalhar noutro país ou para uma organização internacional. Assim como dá também para "ir para fora cá dentro", o que, profissionalmente, é mais comum do que se julga.

5. Por fim, escolhe um curso que te garanta um emprego. De preferência - como no rap do BossAC - "um bom emprego, já, já, já!". Neste caso, se depois de licenciado queres chegar à sexta--feira e ainda ter "tostão no bolso", vai ao site da Direção-Geral do Ensino Superior, ver quais são os cursos e as Universidades que te garantem as melhores taxas de empregabilidade e tira as tuas próprias conclusões. Aqui fica: http://infocursos.mec.pt/

Isto dito, a boa notícia é que os números demonstram - e contra factos não há argumentos - que ainda há licenciaturas, faculdades e universidades que garantem elevadíssimas taxas de empregabilidade, mesmo em domínios onde a concorrência é muito elevada.

Boa sorte!

* Diretor da Escola de Lisboa da Faculdade de Direito da Universidade Católica

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