Grande Coligação entre CDU/CSU de Angela Merkel e o SPD de Andrea Nahles treme na Alemanha, batalha entre os franceses Emmanuel Macron e Marine Le Pen muda-se para o Parlamento Europeu, o espanhol Pedro Sánchez torna-se o líder acidental dos socialistas europeus enquanto procura conseguir formar governo em casa, coligação contranatura entre a Liga e Matteo Salvini e o 5 Estrelas de Luigi Di Maio dará, mais dia menos dia, eleições antecipadas em Itália e resultado do Partido do Brexit de Nigel Farage mostra que muitos não mudaram de ideia e querem mesmo tirar o Reino Unido da UE..Grande Coligação treme na Alemanha.Na Alemanha, a Grande Coligação CDU/CSU-SPD está em maus lençóis depois dos resultados das eleições europeias de domingo e das eleições regionais no estado federado de Bremen..No primeiro escrutínio o partido da chanceler alemã Angela Merkel ficou em primeiro lugar, mas passou de 34 eurodeputados eleitos em 2014 para 29, ou seja, menos cinco. A par dessa descida, a ascensão do Partido do Brexit de Nigel Farage e da Liga de Matteo Salvini fez que o partido outrora liderado por Merkel deixasse de ser o maior no Parlamento Europeu. Os eurocéticos britânicos elegeram também 29 eurodeputados e os populistas italianos 28..O SPD, liderado por Andrea Nahles, sucessora de Martin Schulz, ficou em terceiro lugar. Atrás dos Verdes. Estes já tinham subido nas últimas legislativas e têm subido, tal como o partido de extrema-direita AfD, em votações regionais. Antes de ser obrigada a governar, de novo, numa Grande Coligação, Merkel ainda tentou outras fórmulas de aliança, embora a posição dos Verdes, por causa do chamado escândalo do Dieselgate, fosse irredutível em relação à CDU/CSU..No passado, os Verdes chegaram a estar no governo na Alemanha, coligados com o SPD. Joschla Fischer foi ministro dos Negócios Estrangeiros e vice-chanceler de Gerhard Schroeder entre 1998 e 2005..Nas segundas eleições, no estado de Bremen, o SPD perdeu pela primeira vez em 73 anos. A CDU/CSU ficou em primeiro. Em terceiro surgiram os Verdes e poderão agora ter uma palavra decisiva na formação de um novo governo regional..Confessando-se "extremamente desiludida", Nahles, a líder dos sociais-democratas, declarou: "Parece que a proteção do clima foi decisiva para muitos eleitores. É preciso tornar a proteção do clima numa questão social."."Vemos em Bremen o problema de uma posição fraca do SPD a nível nacional", disse Carsten Sieling, do SPD de Bremen, à Reuters. Ainda antes das eleições. Já o resultado se adivinhava mau.."[A nível nacional] o SPD precisava de ter ido fazer uma reabilitação. Mas perdeu a oportunidade ao entrar no governo. Apesar de o ambiente na Grande Coligação não ser bom, não vão sair dela, pois não estão prontos para ir a eleições", declarou àquela mesma agência noticiosa o professor da Universidade Livre de Berlim Gero Neugebauer..Nahles, pouco carismática, poderia ser contestada internamente, mas não se vê bem por quem. Isso poderia provocar eleições antecipadas na Alemanha, eleições essas que já não teriam Merkel a liderar a CDU, mas Annegret Kramp-Karrenbauer (AKK). O perigo de a Alternativa para a Alemanha aumentar ainda mais o capital que já tem é enorme. Nas eleições de 2017 a AfD ficou em terceiro lugar e, pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a extrema-direita voltou ao Bundestag..Além disso, avançou a agência Bloomberg, Merkel acha que AKK não é, afinal, a pessoa correta para o cargo. No início de maio, segundo uma sondagem da ARD, só tinha 36% de popularidade. Um número que deverá baixar consideravelmente depois de ter sugerido censurar os youtubers depois de estes terem apelado ao boicote dos partidos da Grande Coligação nas europeias. De qualquer forma, a CDU reúne-se entre os dias 2 e 3 de junho, para analisar os resultado das europeias. Questionada no final de abril sobre se iria anunciar a sua saída do poder nesta reunião, Merkel, noticiou a Reuters, disse: "respondo a isso com um rotundo não"..Tudo isto pode fragilizar Merkel nas negociações da distribuição dos cargos da UE. O candidato do Partido Popular Europeu à presidência da Comissão Europeia, Manfred Weber, alemão, da CSU, não agrada a Emmanuel Macron e a muitos outros. A aliança progressista de que agora se fala poderia arranjar maneira de o afastar da sucessão de Jean-Claude Juncker. O mesmo vale para a presidência do Banco Central Europeu, onde Merkel quer ver Jein Weidmann, presidente do Bundesbank, mas finlandeses e franceses já andam à procura de outros nomes alternativos. Os chefes do Estado e do governo da UE vão discutir esta distribuição de cargos, esta terça-feira à noite, em Bruxelas..Batalha entre Macron e Le Pen muda-se para o Parlamento Europeu.Enquanto a líder do partido de extrema-direita União Nacional, Marine Le Pen, que ficou em primeiro lugar, considerou que os resultados das europeias em França constituem uma "lição de humildade para Macron" e que ele não tem alternativa, "tem de dissolver a Assembleia Nacional para a tornar um instrumento representativo do país"..O presidente francês, cuja lista Renascimento e partido La Republique en Marche! ficou em segundo, afirmou através de um comunicado que "isto não foi uma derrota" e de um porta-voz que não tenciona dissolver o Parlamento. "O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, "tem toda a confiança do presidente", declarou Sibeth Ndiaye, porta-voz do governo francês..Apesar de exigir a dissolução da Assembleia Nacional, Le Pen sabe que, dada a diferença de sistemas eleitorais, nunca a União Nacional (antes chamada Frente Nacional) teve em legislativas os resultados que consegue nas europeias..A luta entre Le Pen e Macron muda-se agora para o Parlamento Europeu. A primeira poderá juntar-se à Liga de Salvini e ao Fidesz do húngaro Viktor Orbán, se este decidir, entretanto, sair do PPE. E formar um novo grupo político no PE. Anti-imigração, defensor de uma Europa das nações, dos governos nacionais, do protecionismo, das fronteiras fechadas..Macron, por seu lado, já decidiu que os eurodeputados do La Republique en Marche! integregarão o grupo do ALDE. Este é atualmente liderado pelo belga Guy Verhofstadt e incluirá, entre outros, os liberais romenos da USR ou o Ciudadanos espanhol. Mas o objetivo é criar uma aliança mais vasta de progressistas pró-europeus, que sirva de contrabalanço às forças eurocéticas, populistas, nacionalistas e extremistas de direita e chegue a um consenso para distribuir, entre si, os principais cargos que neste ano vão ficar vagos na União Europeia. O de presidente da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu, do Conselho Europeu, do Banco Central Europeu e o de Alto Representante da UE para a Política Externa..Sánchez torna-se líder acidental dos socialistas europeus.Pedro Sánchez, o homem que se construiu por oposição aos barões do seu próprio partido, que chegou ao poder depois de conseguir o apoio dos independentistas para derrotar o PP de Mariano Rajoy através de uma moção de censura, vê-se agora catapultado para líder dos socialistas europeus numa altura em que estes partidos estão em crise na UE (Espanha e Portugal encontram-se mesmo neste momento entre as grandes exceções)..Isto numa altura em que tudo o que queria era conseguir formar um governo estável em Espanha. Isto porque nas eleições legislativas antecipadas de 28 de abril, convocadas depois de os independentistas terem chumbado o seu Orçamento, o PSOE não conseguiu uma maioria absoluta. Nem sozinho. Nem com os aliados da Unidas Podemos. Do outro lado, o bloco da direita, PP, Ciudadanos e Vox, também não conseguiram chegar à maioria absoluta, ficando na oposição..A hipótese matematicamente mais viável, mas que por falta de vontade dos líderes se adivinha impossível, seria uma coligação entre o PSOE de Pedro Sánchez e o Ciudadanos de Albert Rivera. Assim, Sánchez pondera governar em minoria, o que representaria o risco de estar sempre obrigado a negociar e suscetível à chantagem de nacionalistas para obter apoios..O PSOE saiu-se bem nas eleições deste domingo, além das europeias também havia autárquicas e algumas autonómicas, tendo dado um bom resultado para os socialistas a estratégia de juntar as votações todas num dia. A puxar pelo PSOE na votação para o Parlamento Europeu, o cabeça-de-lista, Josep Borrel, ex-presidente do Parlamento Europeu e atual ministro dos Negócios Estrangeiros do governo cessante de Sánchez..Que futuro para a coligação contranatura entre a Liga e o 5 Estrelas?.O clima já azedou várias vezes, a última das quais no início de maio, quando o líder do 5 Estrelas, Luigi Di Maio, exigiu a demissão do subsecretário de Estado das Infraestruturas e dos Transportes, Armando Siri, também senador, pela Liga de Matteo Salvini, acusado de receber subornos, bem como de relações com a máfia..Sob pressão de Di Maio, depois de o primeiro-ministro, o tecnocrata Giuseppe Conte, ter ficado ao lado do 5 Estrelas, Siri saiu do governo e Salvini, contrariado, deixou cair aquele que muitos diziam ser o seu braço direito..A coligação 5 Estrelas-Liga, formada o ano passado depois de a aliança Liga-Força Itália ter falhado a maioria nas eleições, tem sido acusada de ser uma união de conveniência entre sedentos de poder em vez de um verdadeiro governo..Em comum têm o euroceticismo e o facto de serem avessos às regras de disciplina orçamental da UE. Por isso, não será de estranhar que Salvini, vice-primeiro-ministro e ministro do Interior, disse esta segunda-feira que o bom resultado obtido pelo seu partido representa um mandato para negociar novas regras orçamentais a nível europeu.."Chegou a hora de discutir as regras velhas e passadas de prazo que danificaram a Europa. Só assim uma votação destas pode ser explicada", disse Salvini, citado pela Reuters, depois de, há meses, ter visto a proposta de Orçamento do Estado de Itália chumbado e mandado para trás pela Comissão Europeia..Esta coligação contranatura em Itália está a beneficiar mais a Liga do que o 5 Estrelas, o qual ficou em terceiro lugar, tendo sido ultrapassado pelo Partido Democrático que, entretanto ressuscitado, ficou em segundo lugar nestas europeias..Questionado sobre se a sua demissão tinha sido pedida, Di Maio desvalorizou a questão, respondendo: "Todos no 5 Estrelas concordam que o grupo precisa de se reorganizar mas ninguém falou em fazer rolar cabeças.".Apesar de coligados a nível nacional, a nível regional, quando há eleições, Liga e 5 Estrelas concorrem como rivais. Também no próximo Parlamento Europeu (2019-2024) se sentarão em grupos políticos diferentes. A Liga no Europa das Nações e das Liberdades, com a União Nacional francesa, a AfD alemã e, em última análise, o Fidez húngaro. O 5 Estrelas no Europa da Liberdade e da Democracia Direta, em que o maior partido é o do Brexit, do britânico Farage..Farage vence a segunda volta do referendo do Brexit.O Partido do Brexit de Nigel Farage, que apesar de tudo nem sequer foi criado por ele, tornou-se um dos três maiores partidos no novo Parlamento Europeu a par da CDU/CSU alemã e da Liga italiana. Se em 2014 o seu anterior partido, o Ukip, elegeu 24 representantes para Bruxelas e Estrasburgo, desta vez, cinco anos passados, elegeu 29..Estas europeias eram consideradas uma segunda volta do referendo do Brexit de 23 de junho de 2016, quando 52% dos eleitores britânicos votaram a favor da saída do Reino Unido da UE e 48% contra. E o que deu para perceber é que se o país estava dividido, dividido ficou e dividido continua. Os próprios políticos britânicos o assumem. Mas agora é tarde..A questão é que, enquanto os descontentes e favoráveis ao Brexit votaram no Partido do Brexit, os que são favoráveis à permanência na UE votaram em vários outros países. A maior subida foi para os liberais-democratas. Estes são contra o Brexit e contra a forma como o governo conservador de Theresa May conduziu o processo..Os Conservadores, outrora um grande partido, acabaram estas eleições europeias em quinto lugar, atrás dos Verdes, do Labour, dos liberais-democratas e do Partido do Brexit. O partido está em clima de guerra civil. Algo visível pela quantidade de nomes que têm surgido para suceder a May, que entretanto se demitiu, na liderança do partido e do n.º 10 de Downing Street. Não é um dado adquirido que Boris Johnson, brexiteer radical que já ameaçou com um No Deal Brexit, ganhe efetivamente a corrida para suceder àquela que foi a segunda mulher na chefia de um governo britânico..No campo do Labour, a situação não está melhor, não cessam as críticas ao líder Jeremy Corbyn e as dissidências. No rescaldo das europeias o Labour expulsou Alastair Campbell, ex-chefe de gabinete de Tony Blair, pode ter votado nos liberais-democratas. Num cenário de legislativas antecipadas, que ele tanto reclama, não é claro que saísse beneficiado de imediato. Provavelmente os liberais-democratas, liderados por Vince Cable, poderiam atrair mais os votos dos pró-europeus. Até porque existe a desconfiança de que Corbyn, apesar de líder de um partido pró-europeu, no fundo é a favor do Brexit.