Todas as sondagens apontam para uma pesada derrota do centro direita nas próximas eleições. E isso é grave. Não tanto porque um novo mandato do atual governo possa ser um desastre, mas porque uma descida acentuada do centro direita pode significar o estertor dos partidos que desde 1974 representam os setores mais dinâmicos da sociedade..Os partidos à esquerda do PS sempre defenderam, nos limites do possível após o fim dos regimes comunistas, a forte presença do Estado nos vários setores, com um discurso hostil à iniciativa privada, ao empreendedorismo, à ascensão social pelo enriquecimento individual, que acham suspeito, com a consequência de impostos elevados, rigidez da máquina burocrática do Estado, carência de capital e investimento privados..No governo, o PS foi sempre pragmático, e as condicionantes externas impõem a convivência pacífica com o mundo das empresas e compromisso com os princípios que regem a União Europeia e o euro..Mas agora o governo PS depende do PCP e do BE. Teve de fazer cedências que, se ainda não comprometeram a estabilidade financeira, isso só se deveu à situação económica internacional favorável. Só que esta pode deteriorar-se, o crescimento dos parceiros está a arrefecer e, em contraciclo, as corporações que vivem do Estado estão numa rota ascendente de reivindica ção, apoiada pelos partidos de esquerda..Precisávamos com urgência de uma alternativa convincente. Historicamente essa alternativa estava no PSD. O drama é que o PSD está num processo de autodestruição. Não apenas pelas lutas internas. Mas, porventura mais importante, não se vislumbra um projeto coerente alternativo ao atual governo..Os adversários de Rui Rio argumentam que este tem sido fraco na oposição, mas o que sugerem é uma oposição ruidosa a tudo o que o governo faça, uma oposição do contra, mesmo às decisões que o eleitorado do centro direita considera positivas, dispondo-se a alinhar com os partidos da extrema-esquerda ou com os movimentos sociais..Rui Rio surgiu com outro posicionamento, com uma visão construtiva, mas o tempo foi passando e não conseguiu transmitir um projeto de futuro, alternativo ao atual governo. E quanto precisamos desse projeto!.O que vemos é uma nova Lei de Bases da Saúde refém de preconceitos ideológicos, em vez de adotar as soluções mais úteis aos que precisam, com hostilidade pelas experiências das parcerias com privados que serviram melhor os utentes; a escalada da presença do fisco sobre pessoas e empresas, sem meios de defesa perante abusos; a destruição dos direitos, constitucionalmente consagrados, à reserva da vida privada. E onde está qualquer projeto da oposição para a justiça, ou para a Segurança Social, ou para a melhoria do sistema político, ou para a saúde da comunicação social, ou como salvaguardar os cidadãos dos abusos e as ilegalidades que diariamente são cometidos pelas televisões que dão ao país uma imagem patética e distorcida da realidade?.Esta ausência de ideias e projetos à direita do governo - como Paulo Portas faz falta! - está a propiciar uma oposição larvar, de repulsa pelos políticos e pelas elites em geral, que passa pelas redes sociais mas começa a ser cobiçada por gente sem qualquer ideia mas com voz grossa e sem limites da decência..Advogado