O que esconde uma criança agressiva?
Muitas crianças exibem comportamentos agressivos, verbais, físicos ou sexuais. E com o mundo digital à distância de um clique, estas agressões podem assumir contornos muito diversos, como o envio de mensagens violentas ou insultuosas, a difamação, o assédio ou a publicação de conteúdos privados sobre alguém.
Estamos em outubro, o mês dedicado à sensibilização e à prevenção do bullying, para que possamos aprender a prevenir, identificar e agir. Competências que implicam necessariamente uma intervenção articulada entre a família, a escola e a comunidade, enquadrada por medidas políticas e legais concretas e baseadas em evidências.
Hoje falamos de bullying ou cyberbullying, não na perspetiva das vítimas ou dos observadores, mas sim de quem agride. Os chamados bullies.
As crianças agressoras são muitas vezes populares e podem ter amigos, ainda que as suas amizades sejam baseadas no medo, e não no respeito. Algumas características frequentes são a irritabilidade, a manipulação, a impulsividade e a baixa tolerância à frustração. Evidenciam dificuldade em cumprir regras, intimidam e gabam-se da sua superioridade (real ou imaginária) sobre as outras crianças. No fundo, falamos de crianças pouco empáticas que subestimam a sua agressividade e minimizam o sofrimento da vítima, com uma enorme necessidade em exercer poder e controlo. Manifestam ainda formas distorcidas de ler a realidade, acreditando que "estão todos contra mim", que "o mundo tem de ser como eu quero" e que qualquer contrariedade "é horrível e insuportável". Estas crianças revelam competências deficitárias a vários níveis, desde a forma como rotulam e gerem as suas emoções, até ao modo como resolvem problemas e regulam o seu comportamento.
É difícil, ou mesmo impossível, estabelecer uma relação de causa-efeito e identificar a origem deste tipo de comportamentos. Sabemos, no entanto, que existem diversos fatores de risco, individuais (por exemplo, temperamento, autoestima), familiares (por exemplo, práticas punitivas, negligência, violência doméstica) e sociais (por exemplo, valorização da violência, pressão do grupo de pares).
Neste contexto, mais do que pensar-se numa qualquer punição para a criança agressora, é fundamental tentar compreender o seu funcionamento e envolvê-la num processo de ajuda, que exige o envolvimento ativo da família e da escola.
Para ajudar estas crianças, é importante não negar o problema nem a sua gravidade, orientando-as no sentido de assumir a sua responsabilidade. Encorajar a empatia e desenvolver um sistema de regras claro em que os comportamentos adequados são reforçados e os comportamentos desadequados têm consequências negativas. Procurar ainda soluções de restituição, com ações concretas que ajudem as vítimas a sentirem-se melhor e a serem compensadas, de alguma forma, pelos danos sofridos.
O comportamento agressivo mascara muitas vezes um sem-número de fragilidades e dificuldades que requerem um processo de ajuda especializada. Por isso, é preciso passar tempo com a criança, dar-lhe atenção, vê-la e escutar aquilo que diz e que não diz. Olhando-a como alguém que também sofre e que precisa de auxílio.
Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal