O que dizem Dilma e Lula nas gravações?

Além da conversa sobre o termo de posse, Lula também fez duras críticas ao juiz Sérgio Moro e aos investigadores da Lava Jato.
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A divulgação das gravações das conversas telefónicas entre a presidente brasileira e o ex-presidente mostra que os dois combinaram um plano para evitar a prisão de Lula.

Foram divulgados dois extratos dessas conversas (pelo canal de televisão Globo News), tidas ainda antes de ser oficial que o ex-presidente tinha aceitado o convite de Dilma Rousseff para ser chefe da Casa Civil, um dos mais altos cargos da hierarquia do governo brasileiro e que permite a Lula da Silva escapar ao juiz Sérgio Moro, que tem em mãos a investigação ao caso de corrupção Lava Jato, e ser apenas julgado pelo Supremo Tribunal Federal.

Numa gravação mais curta, Dilma Roussef diz a Lula que mandou alguém entregar o termo de posse do ex-Presidente como ministro para o caso de ser necessário.

"Seguinte, eu estou mandando o 'Messias' [Jorge Rodrigo Araújo Messias, subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil] junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?", diz Dilma, ao que Lula responde: "Está bom, eu estou aqui, fico aguardando".

Numa outra gravação, que terá sido feita a 4 de março, Lula também fez duras críticas ao juiz Sérgio Moro e aos investigadores da Lava Jato.

"Nós temos uma suprema corte totalmente acovardada e um parlamento totalmente acovardado. Temos um presidente da Câmara e do Senado fodidos e parlamentares ameaçados, pensando que vai acontecer um milagre e todo mundo vai se salvar. Estou assustado com a República de Curitiba [de Sérgio Moro]", diz Lula na gravação.

O ex-presidente começa por comentar o facto de ter sido ouvido durante quase três horas pela Polícia Federal. "Eu acho que o Moro quis fazer um espetáculo antes daquele negócio que tá pra decidir que tá no Supremo pra decidir, mas ele precisava fazer o espetáculo de pirotecnia", diz, referindo-se aos investigadores como "canalhas"

Lula fala depois das buscas que decorreram em casa dos filhos e de antigos quadros do Partido dos Trabalhadores. E ainda brinca, quando diz que apareceram cinco homens em casa de Clara Ant, sua assessora: "Ela pensava que era um presente de Deus e era a Polícia Federal".

"Eu acho que foi um espetáculo de pirotecnia, a tese dele de que tudo o que está acontecendo foi uma quadrilha montada em 2003 e ela perdura até hoje... e dentro do Palácio, até de dentro do Palácio. Então ele não precisa de explicação", diz sobre o juiz.

Temos de aproveitar a nossa militância e ir para a rua. Eu, sinceramente, que estou querendo me aposentar, vou antecipar a minha campanha para 2018, eu vou acertar de viajar por esse país a partir da semana que vem, sabe, quero ver o que vai acontecer", acrescenta, garantindo que não vai ficar em casa parado.

Dilma pergunta-lhe se ele não acha estranho a publicação pela revista IstoÉ, na quinta-feira, dia 3, um dia antes da operação Aletheia, da notícia de que o senador Delcídio Amaral teria feitio um acordo para denunciar interferências na operação Lava Jato. Lula volta a falar do espetáculo de pirotecnia. "Eles estão convencidos de que com a imprensa chefiando o processo investigatório eles conseguem refundar a República. Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado, somente nos últimos tempos o PT e o PC do B começaram a acordar, um presidente da Câmara fodido, um presidente do Senado fodido, não sei quantos parlamentares ameaçados e fica todo mundo no compasso achando que vai acontecer um milagre."

Lula ainda realça que "a partir de um juiz de primeira instância tudo pode acontecer nesse país".

As conversas foram gravadas pela Polícia Federal, alegadamente com autorização judicial antes de Dilma Roussef anunciar publicamente que Lula seria ministro chefe da Casa Civil.

Entretanto, hoje já surgiram informações de que o juiz Sérgio Moro tinha ordenado a interrupção das escutas duas horas antes da conversa sobre o termo de posse.

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