O príncipe que passou de enfant terrible a braço-direito da rainha
Harry dificilmente será rei. O irmão mais novo do príncipe William ocupa o quinto lugar na linha de sucessão ao trono britânico e, apesar dessa possibilidade ser remota, tem ocupado um lugar de cada vez maior preponderância no seio da família real britânica. Ainda este outono, o príncipe, que completou 32 anos esta semana, irá representar Isabel II numa visita oficial a vários países das Caraíbas. Tal missão seria, há uns meros quatros anos, praticamente impossível. Ou pelo menos mal interpretada a nível internacional.
Atualmente patrono de cerca de duas dezenas de instituições solidárias e organizações de ajuda humanitária, Henry Charles Albert David era, até há bem pouco tempo, visto pelos seus súbditos (e, claro, pela imprensa britânica, sobretudo a tabloide, escrutinadora de todos os passo da família real) como um enfant terrible, o menino mal-comportado da The Firm (A Firma, a alcunha pela qual a casa real liderada por Isabel II é conhecida).
A reputação menos positiva de Harry deve-se a uma série de fatores mas podem sintetizar-se em dois episódios particularmente nefastos. Em 2005, tinha o príncipe na altura 20 anos, o tablóide The Sun divulgou imagens de Harry vestido com um uniforme e usando uma braçadeira com a suástica, símbolo nazi. À época, Harry era conhecido sobretudo por frequentar assiduamente festas noturnas, ser fotografado embriagado, a fumar marijuana e também por agressões a papparazzi.
A imagem, captada numa festa privada, foi amplamente criticada e, apesar de se ter chegado a exigir publicamente que Harry fosse expulso da Real Academia Militar de Sandhurst, onde era cadete à época, não houve consequências de maior para o príncipe... além do pedido de desculpas, via comunicado, através da casa real.
Em 2009, Harry voltou a estar debaixo de fogo por ter usado um termo racista para se referir a um colega do exército de origem paquistanesa. O extinto tablóide News of the World divulgou uma gravação, feita três anos antes, em que se ouvia a voz do príncipe a descrever o soldado Ahmed Raza Khan como "o nosso pequeno amigo paki" [termo pejorativo utilizado para designar alguém de origem paquistanesa] e a utilizar palavrões. David Cameron, à época líder do partido conservador britânico, classificou o episódio de "inaceitável".
Harry voltou a pedir desculpa publicamente. Algo que acabou por não acontecer três anos mais tarde, quando o TMZ divulgou fotografias do príncipe, completamente nu, numa festa em Las Vegas. "Party prince" ("o príncipe sempre em festa", em português), foi o título que percorreu mundo.
À época, Harry preparava-se para iniciar uma missão militar no Afeganistão. E foi exatamente o seu empenho na carreira militar além-fronteiras que acabaria por o afastar de mais escândalos e, de alguma forma, contribuir para reabilitação da sua imagem pública. Em 2014, o príncipe lançou aquela que é a iniciativa que lhe é mais cara, os Invictus Games, um evento desportivo paralímpico para militares feridos em combate. Na edição deste ano, que aconteceu nos Estados Unidos, até a rainha Isabel II se juntou ao neto num vídeo divulgado nas redes sociais a desafiar a equipa norte-americana (e Barack e Michelle Obama) para a conquista de medalhas.
Com o fim da sua carreira militar, em junho do ano passado, ainda não é claro que percurso profissional seguirá o príncipe Harry. "Estou a considerar as opções que tenho para o futuro e estou entusiasmado com as possibilidades", disse na altura o filho mais novo do príncipe Carlos e da princesa Diana. Enquanto não chega a altura de ter um emprego (embora haja grandes dúvidas que Harry vá trabalhar das nove às cinco como o comum dos mortais), o príncipe tem, com cada vez maior frequência, representado a família real britânica em visitas oficiais. Só este ano, Harry esteve no Nepal, onde ajudou a reconstruir uma escola destruída pelo terramoto de 2015 e também visitou o Canadá, país que vai receber os Invictus Games em 2017.
Em 2012, ainda no rescaldo do casamento do príncipe William com Kate Middleton e por ocasião do Jubileu da rainha Isabel II, um estudo revelava que o valor comercial da família real britânica era de 51,8 mil milhões de euros. E Harry tem aprendido tornar-se um ativo (e não um risco) para A Firma. Só lhe falta, para o retrato ser perfeito, uma noiva. Harry está solteiro desde o fim do namoro com Cressida Bonas, em abril do ano passado.