No princípio era Alberto Youssef. A 17 de março de 2014, o "doleiro", como são chamados no Brasil os negociantes de dólares no mercado paralelo, foi detido na 1.ª de 37 fases da Operação Lava-Jato, ainda Sérgio Moro, o mediático juiz que coordena as investigações, era conhecido só por meia dúzia de brasileiros. Entre eles estava o próprio Youssef, que já fora detido por ordem do magistrado em 2004 num escândalo anterior e seguidamente libertado por ter assinado um acordo de delação premiada..Na Lava-Jato, Moro e Yousseff repetiram a colaboração: em troca de nomes, detalhes e devolução de dinheiro do escândalo de corrupção na petrolífera estatal Petrobras, Youssef, condenado a 122 anos de cadeia, recuperaria a liberdade em três anos. E assim foi: depois de dois anos e oito meses num cárcere de Curitiba, no Paraná, estado de onde juiz e "doleiro" são naturais, o primeiro réu da Lava-Jato passou a partir desta semana a viver num apartamento no bairro de Vila Nova da Conceição, em São Paulo. Até 17 de março de 2017 usará pulseira eletrónica e poderá apenas deslocar-se ao ginásio no hall do edifício, mas depois estará livre para recomeçar a vida..Pelo meio, o especialista em lavagem de dinheiro filho de um imigrante libanês e de uma brasileira perdeu quase todos os bens, incluindo hotéis, devolveu 50 milhões de reais (cerca de 14 milhões de euros) e denunciou parte dos 80 condenados da Lava-Jato. Perdeu ainda a mulher, Joana D"Arc Youssef, após seremrevelados dois casos extraconjugais como danos colaterais das escutas policiais aos seus 35 telemóveis..O primeiro dos quais com Nelma Kodama, "a dama do mercado negro", apanhada dias depois do amante a tentar fugir do Brasil com euros escondidos nas roupas íntimas - em depoimento em direto numa Comissão Parlamentar de Inquérito, ela cantou para os deputados Amada Amante, de Roberto Carlos, para confirmar o caso. E o segundo com Taiana Camargo, de 30 anos, que aproveitou a exposição para ser capa da Playboy..Na Lava-Jato, o papel de Youssef era intermediar transferências, muitas vezes em espécie, entre políticos, construtores e quadros da Petrobras, além de lavar dinheiro ou trocá-lo por moeda estrangeira. "Um profissional do crime", segundo Moro, que começou por vender salgados nas ruas de Londrina, onde nasceu, se tornou contrabandista de mercadorias não declaradas entre o Brasil e o Paraguai, até em 2004 ter sido preso a transferir 30 mil milhões de reais (perto de 8,5 mil milhões de euros) de um banco do Paraná para o estrangeiro. Foi solto na ocasião porque denunciou os comparsas e se comprometeu perante o juiz a não prevaricar mais. Anos depois, foi peça central da Lava-Jato..[artigo:5232490].São Paulo