A coleção vai ser exibida pela primeira vez a partir de sexta-feira no Porto, cidade que o Governo também escolheu para acolher a coleção em permanência, lançando o desafio para disponibilizar um espaço adequado que a câmara municipal ainda está a avaliar..A exposição Joan Miró: Materialidade e Metamorfose abre ao público no sábado, no Museu de Serralves, onde ficará patente até 28 de janeiro de 2017, com curadoria de Robert Lubar Messeri..A venda da coleção de obras do pintor catalão Joan Miró (1893-1983) veio a público no final de 2013, quando a Parvalorem e a Parups, empresas criadas pelo Estado em 2010 para gerir os ativos e recuperar os créditos do ex-Banco Português de Negócios (BPN), nacionalizado em 2008, anunciaram que iria a leilão no ano seguinte, em Londres, pela Christie"s..Estava revelada a opção do então Governo PSD/CDS, liderado por Passos Coelho: vender a coleção para reaver parte dos créditos do ex-BPN, sustentada pelo argumento de que o conjunto de obras de arte não era prioritário para as coleções dos museus nacionais..Na altura, o Governo alegou que, num contexto de crise, o objetivo era abater a despesa do Estado, e o leilão internacional seria a forma "mais transparente" de vender..A esta decisão reagiu um grupo de artistas e curadores de Lisboa, defendendo, numa petição pública, a manutenção das 85 obras de arte em Portugal. Receberia mais de 10 mil assinaturas, e foi debatida no parlamento..O debate cresceu e foram chamados, na altura, ao parlamento, o então secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, o presidente das duas empresas, Francisco Nogueira Leite, e a secretária de Estado do Tesouro, Isabel Castelo Branco..Por seu turno, os partidos da oposição, em particular o PS, o PCP e o BE, defenderam a manutenção das obras no país e a sua classificação como património nacional..Nos termos do contrato entre as empresas que representam o Estado e a leiloeira Christie"s, a coleção seria vendida por um valor mínimo de 35,5 milhões de euros, ou um valor máximo expectável de 54,3 milhões de euros..O Ministério Público (MP) avançou com uma providência cautelar junto do Tribunal Administrativo do Círculo de Lisboa pedindo a suspensão da venda do acervo poucos dias antes da realização do leilão, em Londres, mas foi rejeitada..Mesmo assim, a Christie"s acabou por cancelar o leilão, concluindo que as incertezas jurídicas criadas em Portugal punham em perigo a venda das obras de forma segura..Nessa altura, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, lamentou a decisão da leiloeira, e responsabilizou-a pela gestão do processo, manifestando-se esperançado que a venda fosse feita "a curto prazo"..As obras, que se encontravam já em Londres, em exposição, acabaram por regressar a Portugal, para os cofres da Caixa Geral de Depósitos, onde permaneceram, e chegou a ser marcado novo leilão, mas o MP voltou a interpor uma providência cautelar contra a saída das obras, que acabou por ser aceite..Pela segunda vez, a leiloeira voltou a adiar o leilão para quando as "questões legais e comerciais" estivessem resolvidas, o que não chegou a acontecer..Também as empresas foram reafirmando a intenção da venda das 85 obras, e recusaram sempre a sua exposição pública invocando as questões judiciais pendentes..O destino da polémica coleção Miró acabou por mudar totalmente com o novo Governo, tendo no final de 2015, o então ministro da cultura, João Soares, anunciado no parlamento que as obras ficavam definitivamente em Portugal, opção reiterada pelo ministro que o sucedeu, Luís Filipe Castro Mendes, e, na terça-feira, pelo primeiro-ministro, António Costa.