Voltar em julho na Áustria, sem público e fazer duas corridas no mesmo circuito, uma delas em sentido inverso. Este é o mais recente plano do promotor do circuito mundial de Fórmula 1 para colocar as escuderias de novo em pista. Fazer duas corridas num só fim de semana ou encontrar novos circuitos parecem estar, por agora, fora do radar da organização, mas tudo depende da evolução da pandemia. O objetivo é fazer, pelo menos 15 corridas até dezembro e cumprir contratos sob pena de ter de devolver verbas. Para já os pilotos entretêm-se a fazer corridas virtuais. Com a pandemia do covid-19 a alastrar pelo mundo, tornou-se difícil cumpriu o calendário definido para o circuito mundial deste ano: 21 provas. As dificuldades de logísticas das equipas aliado às restrições impostas em vários países, bem como o receio de propagação do vírus e a salvaguarda da saúde dos envolvidos levaram ao cancelamento de três os grandes prémios (Austrália, Mónaco, França) e adiaram sete (Bahrein, Vietname, China, Holanda, Espanha, Azerbaijão e Canadá). A mais recente vítima foi o evento francês, previsto para 28 de junho. A competição devia ter começado no dia 15 de março na Austrália e, neste momento, prevê-se que a F1 volte às pistas a 5 de julho na Áustria e sem público, como revelou Chase Carey, responsável máximo da competição.."O objetivo é começar na Europa, correndo em julho, agosto e início de setembro, com a primeira corrida a decorrer na Áustria, entre 3 e 5 de julho", afirmou Carey, antes de anunciar que a caravana da F1 vai depois rumar à Ásia e Américas, em setembro, outubro e novembro, terminando em dezembro, no Médio Oriente, com as provas do Bahrain e Abu Dhabi. "A saúde e a segurança de todos os envolvidos continuarão a ser a primeira prioridade e só avançaremos se tivermos a certeza de que temos procedimentos fiáveis para lidar com riscos e possíveis problemas", frisou o novo chefão da F1, lembrando que o mais importante é que a Liberty Media, a Federação Internacional (FIA) e as equipas assumam um acordo "que fortaleça o futuro a longo prazo da Fórmula 1". Daí que a organizadora do mundial tenha pensado em economizar esforços e recursos e fazer dois grandes prémios em um. Ou seja duas corridas seguidas no mesmo circuito, podendo uma delas ser em sentido inverso para dar ideia de que é corrido numa pista diferente. Fazer duas corridas no mesmo fim de semana é outra das ideias e também resolvia alguns problemas de calendário. As ideias foram bem acolhidas por alguns pilotos, sedentos de voltar ao asfalto. "Seria ótimo competir de outra maneira que o normal. Parece-me uma ideia interessante que nos permitirá redescobrir a pista", confessou Charles Leclerc, a grande esperança da Ferrari..Lando Norris (McLaren) também não desaprovou da ideia: "Pelo que ouvi, vamos diretamente para a competição e provavelmente haverá uma corrida dupla, ou seja, duas corridas em um fim de semana. Tudo será mais compacto e exigente. O positivo é que temos os dados da pré-temporada e os resultados de cada teste." Já o diretor do GP da Grã-Bretanha - previsto para 19 de julho e sem público - mostrou intenção de fornecer outras soluções que permitam montar duas corridas diferentes em Silverstone em apenas alguns dias, embora a tenha classificado como "a opção mais louca"..Mas estarão os circuitos capacitados para tal? Para que se passe da ideia à prática é necessários que os grandes prémios queiram e aceitem renegociar contratos. As mudanças na rota têm custos e obrigam a novos protocolos de segurança, mas os eventos duplos resolvem o problema dos grandes prémios já adiados. Uma solução fácil e quase sem custos adicionais. O mesmo se passaria com os direitos televisivos das provas, que teriam dois produtos em vez de um por cada fim de semana..A ideia de fazer duas provas no mesmo circuito também foi aventada por alguns pilotos e diretores de equipas do MOTOGP, o mundial de motociclismo, mas não vingou. Embora no início da crise o promotor do campeonato não descartasse esse cenário, nas últimas semanas a opção pela corrida dupla foi descartada. "Essa possibilidade não tem utilidade para nós, o promotor que tem uma carreira já está bastante stressado e não pagará por ter duas corridas, nem as televisões", revelou Carmelo Ezpeleta, CEO da Dorna, que preferiu recalendarizar as provas..Apenas mil pessoas presentes por evento.Na Áustria, segundo o siteAuto Motor und Sport, já se prepara o Red Bull Ring (RBR), em Spielberg, para duas corridas em julho. A pista austríaca fica numa região rural e com pouca densidade populacional. O plano é confinar todos os profissionais indispensáveis para o evento em hotéis da RBR na zona e deslocá-los apenas deles para o autódromo e vice-versa. Além disso, todos os credenciados seriam testados para covid-19 antes do evento. E a presença seria limitada ao máximo de mil pessoas. Só deverão estar no circuito os responsáveis pela transmissão de TV, três fotógrafos oficiais, fiscais de pista, médicos e os empregados das dez escuderias e da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). No caso do GP de Espanha (previsto para 10 de maio), o diretor do circuito de Montmeló, Joan Fontserè, deixou claro que a mudança não pode ser feita de ânimo leve: "Estamos a trabalhar em vários cenários e ver todas as condições, não apenas económicas, também de logística e sanitárias, que podem alterar bastante o custo de produção. Estamos a ir passo a passo, mas não nos podem exigir o que não estava acordado." Habituado a receber os testes de pré-temporada durante duas semanas não vê problemas em ter duas corridas em dois dias, mas fazer a segunda corrida em sentido contrário "é impossível, na opinião de Fontserè. "Isso não é possível devido a medidas de segurança. Existem muito poucos circuitos com brechas projetadas para funcionarem nos dois sentidos com segurança. É impossível", confessou ele à SoyMotor..Com o campeonato suspenso, sete equipas de Fórmula 1 sediadas no Reino Unido - Red Bull, Racing Point, Haas, McLaren, Mercedes, Renault e Williams- uniram-se para fabricar dispositivos médicos, em particular ventiladores, que ajudem no tratamento de doentes com covid-19. Mas isso não resolveu o facto de terem carros que custaram milhões de euros parados. Na generalidade, as escuderias têm enfrentado dificuldades para fazer face às despesas orçamentais e muitas já recorreram a adiantamentos de verbas. O grupo Liberty Media, detentor dos direitos comerciais da Fórmula 1, adiantou o pagamento de alguns prémios "para manter o ecossistema e assegurar que as equipas mantêm a solvência", de acordo com anúncio feito pelo presidente do grupo empresarial, Greg Maffei. "Adiantámos algum dinheiro a algumas equipas. Há casos em que talvez tenhamos de tomar mais algumas medidas para ajudar. Queremos garantir que as equipas mantêm a solvência, pois precisamos delas em 2020, 2021, 2022", disse o patrão da Liberty Media, sem especificar quais as equipas ajudadas e admitindo que "corridas sem espetadores geram menos lucros". A ideia de correr sem público também não agrada a Sebastian Vettel. Para o piloto alemão da Ferrari é "complicado" o regresso da Fórmula 1 no atual cenário de pandemia de covid-19, até em defesa da "saúde da modalidade". "Há várias opções, entre as quais competir sem público. Ninguém gosta de correr em frente a bancadas vazias, mas um grande prémio fechado pode permitir o regresso mais cedo", sustentou o tetracampeão mundial em entrevista à France-Presse. Para Vettel a redução e provas não é um problema, pois "não fará grande diferença" na atribuição do título, desde que se corram pelo menos oito grandes prémios, o número mínimo para que o campeonato seja considerado mundial. Já o campeão, Lewis Hamilton, admitiu que sente falta da Fórmula 1. "Sinto falta das corridas todos os dias. É a primeira vez desde os oito anos que não começo uma temporada. Quando uma das coisas que mais gostamos de fazer, de repente deixa de existir, isso deixa um grande vazio. Mas, há sempre coisas positivas para aprender destes momentos", escreveu o britânico no Instagram, depois de ver mais uma prova (França) cancelada..E se o Algarve fosse hipótese?.A promotora da F1 chegou a ponderar deslocar alguns grandes prémios para circuito de países onde a pandemia está a ser menos agressiva e com facilidade logística, como é o caso de Portugal. A ideia parece não ter avançado, no entanto, o Autódromo do Algarve mostrou disponibilidade para isso, uma vez que já tem a certificação necessária para receber as provas máximas do automobilismo de pista. "Tivemos algumas conversas com a FOM [Formula One Management] desde o tempo do Ecclestone. Queremos receber uma corrida de Fórmula 1 e acho que, durante esta época de pandemia, temos provavelmente a melhor situação da Europa para isso, até porque também temos muitos hotéis disponíveis", disse ao AutoSport, Paulo Pinheiro, CEO do Autódromo Internacional do Algarve, que já antes tinha mostrado vontade de receber uma prova do MOTOGP..A última vez que a Formula 1 esteve presente em Portugal foi, precisamente, na pista de Portimão, em 2008, na realização de testes de inverno. O último grande prémio foi em 1996, no Estoril..Também Hockenheim já admitiu que está disponível para receber uma prova em 2020. O novo calendário do mundial de F1 será revelado na próxima semana.