O "pior pesadelo" de Gabriella acabou de medalha ao peito
As lágrimas de tristeza e embaraço transformaram-se em lágrimas de alegria: um dia depois de ter vivido o "pior pesadelo" de qualquer atleta de patinagem artística (com o vestido a descair e deixar à mostra o seu mamilo esquerdo), Gabriella Papadakis ultrapassou o incidente com uma performance histórica (que valeu, por breves momentos, o recorde mundial). Ao lado de Guillaume Cizeron, a francesa conquistou ontem a medalha de prata de dança no gelo, em PyeongChang 2018.
Para o par francês (ela de 22 anos, ele de 23), foi uma forma épica de redenção, após o deslize que ameaçava estragar a sua estreia em Jogos Olímpicos de Inverno. Anteontem, quando Gabriella e Guillaume dançavam no gelo ao som de uma música de Ed Sheeran - parte do programa curto da competição de dança no gelo -, o vestido da patinadora saiu ligeiramente do sítio, deixando a descoberto o mamilo, numa imagem que se tornou viral na internet. Papadakis logo se recompôs e prosseguiu a performance, mas não escondeu o embaraço.
"Era o meu pior pesadelo e aconteceu em plenos Jogos Olímpicos. Senti logo o que se tinha passado e rezei... era tudo o que podia fazer. Não tinha outra opção que não fosse seguir em frente", disse Gabriella, depois de deixar a pista em lágrimas. Apesar do imprevisto - que poderá ter condicionado a pontuação da dupla francesa, deixando a pairar um grande "e se?" - o par Papadakis/Cizeron terminou o dia em 2.º lugar, com 81,93 pontos. E, ontem - com a realização do programa livre - confirmou a subida ao pódio, com um desempenho histórico.
Ao somarem 123,50, os gauleses quebraram o recorde mundial do programa livre e detiveram, por momentos, o máximo total absoluto de (205,28). Tessa Virtue e Scott Moir, do Canadá, suplantaram-nos minutos depois (total de 206,07), para reconquistarem a medalha de ouro. Mas nem isso desanimou Gabriella Papadakis. "Foi uma performance muito boa. Não podíamos ter patinado melhor. É fantástico termos conseguido tanto nos nossos primeiros Jogos Olímpicos", celebrou a atleta gaulesa, sem esconder a comoção. "Estou muito emocionada. Acho que se me disser que morreu o cão da sua avó, começo outra vez a chorar", brincou.
Ora, a comoção da dupla - tetracampeã europeia e vice-campeã mundial - só não foi maior por causa de mais um episódio do incrível comeback da dupla Virtue/Moir. Os canadianos (ela de 28 anos, ele de 30) tinham-se retirado em 2014, depois de falharem a revalidação do título olímpico de dança no gelo conquistado em Vancouver 2010 (em Sochi, ficaram com a prata). No entanto, regressaram à competição em finais de 2016 e estão praticamente invencíveis desde então.
Tessa e Scott, que dançam juntos desde 1997, já tinham ganho o ouro em PyeongChang 2018 na prova de equipas. Ontem, 15 minutos depois da atuação de Papadakis e Cizeron, regressaram ao topo com uma pontuação de 122,40 - que, somada aos 83,67 pontos do programa curto, lhes valeu o recorde mundial da disciplina. "Estou muito satisfeito por termos conseguido ganhar as duas medalhas de ouro que eram o nosso objetivo, após uma competição tão intensa. Agora, não sei o que o futuro nos reserva, mas parece que estamos perto do final definitivo das nossas carreiras", notou Moir.
Terceiro ouro para Fourcade
De resto, essa não foi a única medalha de ouro conquistada ontem pelo Canadá. Cassie Sharpe venceu a final de halfpipe (esqui estilo livre), num dia marcado pela vitória da França na prova de estafetas mistas (biatlo). Com esse triunfo, o gaulês Martin Fourcade somou a terceira medalha de ouro em PyeongChang. Além de Fourcade, há mais sete atletas com três pódios, mas nenhum tem três títulos. Uma delas é a biatleta alemã Laura Dahlmeier, que falhou ontem a quarta medalha (a Alemanha ficou em 4.º lugar).
Os germânicos compensaram no combinado nórdico, dominando todo o pódio - com ouro para Johannes Rydzek. E, na última final do dia (estafeta feminina de 3000 metros/patinagem de velocidade), o título foi para a Coreia do Sul.