O partido das causas sociais e dos animais que seduz mulheres e fãs no Facebook
"É um partido que defende vários aspetos da economia e da sociedade. Por trás tem as sete coisas principais que defende. Por exemplo, que pais e mães tenham mais tempo para estar com os filhos, criar o estatuto jurídico do animal. É uma forma de os defender", diz Ana Matrena. Tem 40 anos e é companheira de causa do partido Pessoas--Animais-Natureza (PAN). Júlio Marcelino olha com atenção para o papel que Ana lhe passou para as mãos, enquanto espera pela filha no corredor do Hospital Santa Maria, em Lisboa. A idade é avançada, a voz quase sumida. "Cheguei a ter 30 cães, mas tinha condições para os criar", diz, e segue passo à chamada da mulher.
Um pouco mais à frente vai André Silva, 39 anos. É o porta-voz do PAN. Escolheram o maior hospital de Lisboa para a conhecer o partido, que nestas andanças ainda nem adolescente é. O PAN surgiu em janeiro de 2011. "Nasceu de um grupo de cidadãos bastante preocupados com a falta de proteção e direitos dos animais, com o estado do ambiente e fraca lei ecologista. Decidimo-nos convencionar em partido político, que é a única forma de chegar aos órgãos de decisão", explica André. O orçamento de 30 mil euros, poupado da subvenção que recebem mensalmente, é todo para apostar na campanha. "Queremos afirmar-nos nestas eleições. Estamos convictos de que vamos eleger pelo menos um deputado. O nosso objetivo é um grupo parlamentar, com um representante pelo círculo de Lisboa e um pelo do Porto."
O passo é calmo mas certeiro contra a indiferença, o virar de cara e a pouca atenção de quem espera por um cuidado médico. "Não se esqueçam de dizer o nome do partido, bom-dia e obrigada", diz para o grupo de oito que o acompanha pelos corredores em direção à zona das consultas. "É um movimento que tem vindo a crescer. Nas redes sociais é muito forte. O Facebook é a principal. Somos o partido com mais membros e amigos. Estamos quase nos 80 mil. Nas redes sociais somos governo", brinca. Têm mais de mil filiados e dezenas de voluntários e companheiros de causa, figura que criaram no último congresso.
Descrevem-se como o único partido ecologista e de cariz animalista. "Focamo-nos em problemas e soluções diferentes, caso da pecuária intensiva. É preciso mitigar as consequências dos gases na atmosfera. A pecuária intensiva contribui com 51%. Temos soluções. Passa por retirar apoios à agricultura e pecuária intensiva e apoiar a agricultura biológica, porque é esta que vai regenerar os solos. Fala-se da sustentabilidade do SNS. Se tivermos um número inferior conseguimos ter sustentabilidade. Cerca de 70% a 80% da ocupação dos hospitais deve-se a doenças contraídas por via da alimentação. Tem de haver uma forma diferente de consumir alimentos, a agricultura biológica", diz, falando de algumas das principais linhas do programa a que se junta a licença de parentalidade até 12 meses com vencimento a 100%, a criação do estatuto jurídico para os animais e a equiparação das despesas com alimentação e veterinária no IRS.
O PAN tem deputados municipais eleitos em Lisboa, Funchal, Maia, entre outras. "Pretendemos mostrar às pessoas que somos diferentes, com novas respostas a problemas comuns. Uma das nossas grandes batalhas é contra a abstenção. Somos um partido de causas e queremos ver as que defendemos debatidas no Parlamento", afirma Francisco Guerreiro. É o número dois por Lisboa e tirou um ano para se dedicar só ao partido, que conquista adeptos entre os 25--45 anos e muitas mulheres. "Têm maior sensibilidade aos princípios que defendemos. Fomos o único partido que teve de reformular as listas porque tínhamos mulheres a mais em Santarém", conta.