O pára-arranca de quem precisa cruzar a linha
Ao segundo dia da reposição do controlo nas fronteiras de Portugal com Espanha, houve filas em vários pontos de passagem autorizados (PPA). Transporte de mercadorias, trabalhadores transfronteiriços e residentes, são os que engrossam o movimento na raia e entopem a fronteira ao início da manhã e ao fim da tarde nos dias úteis.
"A minha residência é em Tui (Galiza) e estou a trabalhar em Valença. Da minha casa até ao trabalho são dez minutos, mas hoje estive uma hora e vinte na fila", contou o português Mário Soares, comercial de profissão, que é um dos cerca de "três a cinco mil" cidadãos que, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), todos os dias atravessam o PPA Valença-Tui, o único a funcionar 24 horas no Alto Minho. Naquela região, há ainda um segundo ponto de atravessamento, mas parcial: a ponte Monção-Salvaterra do Miño. Funciona nos dias úteis das 7 às 9 horas e das 18 às 20 horas, tal como as fronteiras de Miranda do Douro, Termas de Monfortinho, Mourão e Barrancos.
De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Administração Interna (MAI), nas primeiras 24 horas foram controlados nos oito PPA em funcionamento "4020 cidadãos e 2841 viaturas".
Durante a operação desenvolvida pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e pela Guarda Nacional Republicana (GNR), 99 cidadãos foram impedidos de circular nas fronteiras de Castro Marim (33), Vilar Formoso (23), Vila Verde da Raia (23), Valença (6), Caia (6), Marvão (4), Quintanilha (3), Vila Verde de Ficalho (1).
Filas de vários quilómetros ao início da manhã e ao fim da tarde, será o cenário de todos os dias, a partir de agora, segundo o Inspetor Chefe do SEF, António Lima, que coordena as operações de controlo no local.
"Há aqui bastante movimento com filas tanto de Espanha para Portugal, como de Portugal para Espanha. Durante a semana é sempre assim ", informou.
"Vou experimentar uns dias para ver se dá para continuar a cruzar a fronteira diariamente. Não sei se o desvio compensa", explicava Santiago Leal, empreiteiro de construção de Zamora, que não parava de procurar no telemóvel como ir para a aldeia de Petisqueira, também no concelho de Bragança, onde trabalha, porque o desvio do trânsito da E82 que dá acesso à A4 para a Nacional 218-1, uma das oito entradas permanentes no país (24 horas por dia), trocou-lhe as voltas. A ansiedade era tanta que já nem se importava se as autoridades implicariam com a sua insistência em mexer no telefone. "É a primeira vez que aqui passo. Não sei como vamos trabalhar e se dá para ir e vir, porque agora a Petisqueira fica mais distante", acrescentou.
Santiago Leal não teve problemas para entrar em Portugal. Apresentou uma declaração que atestava a viagem por motivos profissionais, aliás, como a maioria dos que ontem cruzaram a fronteira em Quintanilha, quase sempre para trabalhar ou para regressar a casa. Além dos muitos veículos pesados que circulam entre os dois países diariamente, os restantes são trabalhadores transfronteiriços ou vendedores ambulantes.
Até às 18.00 de ontem cruzaram a fronteira 166 veículos pesados e 105 ligeiros, e foram recusadas duas entradas, revelou a GNR. No primeiro dia de restabelecimento das limitações de entrada em Portugal, foram controladas 333 pessoas e impedidas de entrar três. "Não dispunham de comprovativos que atestassem as exceções, mas de uma maneira geral as pessoas estão informadas e apresentam as declarações da entidade patronal ou outras. Não tem havido incidentes", revelou Carlos Morais, coordenador da delegação do SEF de Bragança.
Joaquim Campos, um emigrante em França, natural de Mirandela, que viajava com a mulher e dois filhos, teve que apresentar um documento comprovativo da residência no país de acolhimento, para a Guardia Civil o deixar entrar em Espanha.
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