O papel das tecnologias na integração de pessoas com deficiência
Há medida que a humanidade progride, assistimos a dois importantes fenómenos que permitem uma maior e melhor esperança de vida: por um lado, os avanços na medicina aumentam o número de anos saudáveis que temos e, por outro, a inovação tecnológica remove barreiras para qualquer tipo de dificuldade, em qualquer situação e cenário.
Ainda assim, e apesar de vivermos mais e de forma mais facilitada, aproximadamente 15% da população mundial, ou 1 mil milhão de pessoas vive com algum tipo de deficiência. Demasiadas destas pessoas ainda têm dificuldades no acesso à educação, à saúde e ao emprego, o que torna a sua integração na sociedade mais desafiante.
A propósito deste desafio, existem bastantes estudos científicos afetos ao bem-estar e felicidade das pessoas com deficiência. Por norma as pessoas com deficiências físicas, têm tendência a ter uma expectativa de vida feliz mais curta do que as pessoas sem deficiência, dependendo da sua idade e raça. Este facto levanta a questão de que muitas pessoas com deficiência acabam por ter uma saúde mental mais debilitada, precisamente pois não se sentem integrados na sociedade. É preciso por isso trabalhar ao máximo para capacitar estas pessoas, inserindo-as na sociedade - e este trabalho pode ser grandemente auxiliado e acelerado pela tecnologia.
Desde 2014 que a Organização Mundial de Saúde tem em vigor um plano de ação mundial para as pessoas com deficiência, com o objetivo de remover barreiras e melhorar as acessibilidades. Neste plano, o segundo objetivo delineado passa por "reforçar e estender a reabilitação, habilitação e os serviços e as tecnologias de assistência".
Estas últimas incluem qualquer item, equipamento ou produto adquirido comercialmente que é modificado ou customizado e utilizado para aumentar, manter ou melhor as capacidades funcionais de indivíduos com deficiência.
Com um papel significante em capacitar as pessoas a funcionar e participar, este tipo de tecnologias, cujo mercado tem visto uma rápida aceleração, podem estar divididas em duas categorias: as físicas, dos quais são exemplos dispositivos de baixa visão, dispositivos de audição ou próteses (como membros artificiais); e as digitais, como as tecnologias de informação e comunicação, softwares, e aplicações de smartphone.
Os objetivos estabelecidos para 2021 pela OMS apelam aos Estados Membros e à comunidade internacional para investir em facilitar o acesso a tecnologia de assistência de boa qualidade, tornando-a, por exemplo, disponível a preços acessíveis. Mas a verdade é que, em 2020, ainda existem barreiras significativas para o acesso a estas tecnologias, como a falta de prioridade, a falta de políticas e planos e os mecanismos de financiamento inadequados ou não existentes - as mesmas falhas que foram apontadas pela OMS em 2014.
E neste seguimento, é importante reforçarmos o nosso compromisso para com as pessoas com deficiência com urgência. Os governos têm que se mostrar mais dispostos a integrá-los na força de trabalho, colocando à disposição tecnologias que possibilitem esse trabalho. As empresas de tecnologia têm de considerar que o seu design centrado nos humanos pode não servir toda a gente, e tem cada vez mais que ser inclusivo, obtendo o feedback de uma diversa fatia da população. O ensino superior e os membros que o compõem tem que ter em conta que, a única maneira de estudantes com deficiência ingressarem e vingarem no mundo do trabalho é se forem desde logo capacitados a tirar um curso superior.
Nas palavras de Helen Keller. "A única coisa pior que ser cega é poder ver, mas não ter visão." E ter a visão de melhorar o papel das pessoas com deficiência na sociedade é crucial para o nosso futuro - e a sua resposta passa pela tecnologia.
Country Manager da OrCam Technologies em Portugal e Espanha