O país em alerta
Seca, temperaturas acima dos 40 graus e a memória recente da tragédia em Pedrógão Grande fizeram soar as campainhas e pôr em alerta as autoridades. Com um novo ministro na liderança - afastada a esgotadíssima e já há muito injustificável figura de Eduardo Cabrita por receios de que a sua reputação ecoasse em António Costa e impedisse a maioria absoluta precipitada pela armadilha orçamental à geringonça -, a Administração Interna arregaçou as mangas antes de o país começar a arder.
Talvez tenha sido a primeira ação séria tomada em modo preventivo que alguma vez vimos a antecipar a época de incêndios. E isso já é um ponto a favor de José Luís Carneiro, que comanda as tropas, dos bombeiros à proteção civil, tendo ativado já a declaração de Situação de Contingência, que permite tomar medidas como a mobilização de meios de apoio ao combate a incêndios, a ativação de estratégias preventivas e a preparação de meios e dispositivos, deixados já em estado de alerta.
Claro que depois há uma série de fragilidades que não dependem do momento imediatamente antes de o fogo deflagrar. Uma sucessão de rabos de palha com potencial explosivo se o azar entrar na equação - ou antes, caso se esgote a sorte que tem evitado que o pior aconteça.
A começar pela certeza de haver pessoas e meios, mas não dinheiro para combustível que leve os carros, tanques e ambulâncias ao destino onde são necessários. Os bombeiros fizeram o aviso a António Costa há mais de um mês e têm repetido que os apoios não chegam e os carros podem mesmo ter de ficar parados. Ganharam a promessa de lhes ser devolvido o que gastarem em serviço...
Mais grave é o estado das matas portuguesas, abandonadas ao sabor dos ritmos da natureza depois do ano infernal de Pedrógão e da produção de meia dúzia de regras bacocas em Lisboa, que obrigaram proprietários a cortar árvores de fruto com quase nulo potencial de ignição nos seus jardins, mas em nada impediram o acumular de matéria inflamável na floresta desordenada e sem dono identificável. As empresas continuaram a gerir bem a floresta, que é sua matéria-prima, os particulares foram ameaçados com multas e expropriações e arrancaram árvores e arbustos, mas os terrenos públicos ou de proprietário incógnito ficaram ao abandono. Sem ação nem olho atento.
É este o país que entra em alerta vermelho, com seca extrema e temperaturas acima dos 40 graus toda a semana. Que a sorte nos valha!
Subdiretora do Diário de Notícias