O "Obama do Soweto" que lidera a oposição sul-fricana

Aliança Democrática. Mmusi Maimane, de 34 anos, foi eleito líder do partido associado à minoria branca da África do Sul. Com 93% dos votos. É muito crítico do ANC de Jacob Zuma
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Mmusi Maimane é a nova estrela da política sul-africana: aos 34 anos foi eleito o primeiro líder negro da Aliança Democrática, maior partido da oposição geralmente considerado como uma formação representativa da minoria branca da África do Sul. "Nenhum partido tem o direito divino a governar este país", afirmou o novo líder da oposição, referindo-se ao ANC - partido que governa o país desde o fim do regime racista do apartheid.

Longe do consenso outrora gerado por Nelson Mandela (morreu a 5 de dezembro de 2013), a formação atualmente liderada pelo presidente Jacob Zuma tem sido alvo de crescentes críticas, contestação e até divisões que deram origem a outros partidos. Ao eleger Mmusi Maimane com 93% dos votos, no dia 10, a Aliança Democrática espera conseguir roubar mais votos ao ANC. O partido até agora liderado pela ex-jornalista e ativista antiapartheid Hellen Zille, que se demitiu no mês passado após passar oito anos no cargo, tem estado na frente do combate para reabrir casos de corrupção contra o atual chefe do Estado sul-africano - nomeadamente o relacionado com a sua residência em Nkandla, cujas obras de reforma foram pagas com dinheiros públicos.

Nascido a 6 de junho de 1980, cresceu na zona do Soweto, onde Mandela também viveu durante uma parte da sua vida. Era ali o coração da resistência ao apartheid. Apelidado de "Obama do Soweto" por alguns meios de comunicação, diz acreditar ser possível "superar as desigualdades raciais" se "todos reconhecerem as injustiças do apartheid". Bom aluno e amante de desporto, formou-se nas áreas de psicologia, administração pública e teologia. Evangélico, costuma ir à igreja aos fins de semana e foi aí que, segundo a BBC, conheceu a mulher, Natalie, branca. "Levou tempo a conseguirmos ultrapassar os estereótipos", disse, citado pelo site iol.co.za. O casal tem dois filhos, Kgalaletso e Kgosi, nascidos em 2020 e 2013. A sua família podia bem ser um símbolo daquilo a que o ex-arcebispo anglicano do Cabo Desmond Tutu um dia chamou "Nação Arco-Íris" - em referência ao país africano em que brancos e negros podiam viver como irmãos sem distinções e sem desejos de vingança. De etnia xhosa, a mesma a que pertencia Nelson Mandela (o primeiro presidente negro democraticamente eleito na África do Sul), Maimane chegou a ter a sua empresa de consultadoria e trabalhou com várias companhias do país. Também presidiu a várias organizações de apoio ao desenvolvimento e aos jovens ou no combate ao flagelo do HIV/sida. O próprio Mandela dedicou uma fundação com o seu nome à luta contra a doença, viu um dos filhos morrer vítima dela e declarou que o HIV/sida não era já só uma doença, mas uma questão de direitos humanos.

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