O novo radical

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Wolfgang Schäuble rosnou. Não há outra descrição adequada para o que aconteceu ontem. Talvez seja maldade, talvez seja só um deslize, é possível que seja apenas presunção, um pouco de desespero também face a tudo o que está a acontecer por estes dias na Europa. Os adjetivos são à escolha, é uma questão apenas de elegância e de gosto, mas usá-los e repeti-los não muda nada. As palavras foram ditas e registadas por todos. Têm um preço, têm consequências, custam reputação - a nossa - nos mercados financeiros e traduzem-se em mais desconfiança, provavelmente em juros mais elevados nos próximos leilões. Representam, por isso, um passo atrás depois de tanto esforço e exigem uma resposta do governo português. Primeiro uma resposta junto dos investidores: mostrando as contas - más, sim, claro, mas até ver não piores do que há uns meses -, procurando convencê-los de que Schäuble não sabe do que fala, está a fazer política partidária com o pequeno país de serviço, como antes fizera com a Grécia. É conveniente lembrar que o ministro das Finanças alemão chegou a propor que os gregos fossem afastados da moeda única, que se danassem os tratados, mas só o sugeriu depois de pôr a salvo os bancos alemães que tinham emprestado em excesso. Agora foi a vez de Portugal levar uma canelada vinda do nada, prematuramente. O euro precisava mesmo disto, Portugal também. É legítimo que Schäuble, falando em nome da Alemanha, desconfie dos números de Mário Centeno e da composição ideológica que sustenta o governo de António Costa. É ilegítimo que diga que o resgate - e o caos que isso representa - está próximo quando nada o sustenta. Aliás, até agora a execução orçamental não se inclina para esse lado, pelo contrário, apesar de as previsões de crescimento estarem empoladas. Centeno já reconheceu que há problemas, veremos como vai agir - porque terá de corrigir se for caso disso. As conclusões e as profecias só serão válidas a partir desse momento. Até lá, não vale a pena saltar na jangada. Apesar dos problemas estruturais do euro - ainda em banho-maria -, a Alemanha tem sido importante para ajudar a estabilizar financeiramente Portugal, é vital que continue a desempenhar esse papel. A irresponsabilidade do seu radical ministro das Finanças não muda o essencial: há muito trabalho a fazer, o rigor nas contas públicas é essencial, é nisso que o país tem de se concentrar.

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