As últimas duas semanas foram uma autêntica revolução no Génova, o clube de futebol mais antigo de Itália. O emblema genovês contratou para treinador um dos maiores avançados do futebol mundial, terá como adjunto um histórico do calcio, foi comprado por um fundo norte-americano com sede em Miami e terá como presidente o médico de Silvio Berlusconi, antigo primeiro-ministro italiano. Parece um enredo de uma novela, mas é mesmo a sério. E é com este novo organograma que o emblema da cidade com um dos mais importantes portos de Itália pretende voltar à ribalta - atualmente ocupa o 17.º lugar da Serie A italiana..Pode não parecer à primeira vista, mas o Génova é um histórico de Itália. Não só por ser o clube mais antigo do país (foi fundado em 1893), mas por ter no currículo nove títulos de campeão nacional (Só AC Milan, Inter Milão e Juventus têm mais), apesar de estes tempos de glória terem acontecido há quase 100 anos - foram campeões em 1898, 1899, 1900, 1902, 1903, 1904, 1914-15, 1922-23 e 1923-24..O clube que chegou a andar vários anos perdido na Serie B italiana quer mudar de rumo. E o plano começou a ser construído no início deste mês. No dia 9 de novembro, Andriy Shevchenko foi anunciado como novo treinador. O temível avançado ucraniano, que nos seus tempos de jogador chegou a ser figura de proa do AC Milan (e também do Chelsea), deixou o comando da seleção do seu país para abraçar este novo projeto..Twittertwitter1459204310923939840.Shevchenko trouxe consigo Mauro Tassoti, seu adjunto na seleção da Ucrânia. Tassotti foi um internacional italiano que fez carreira primeiro na Lazio e depois no AC Milan, durante 17 anos (entre 1980 e 1997). Juntos, estes dois históricos conquistaram mais de 30 títulos enquanto jogadores, entre campeonatos nacionais, Liga dos Campeões entre outras importantes provas..Esta aposta só foi possível porque o Génova trocou recentemente de mãos. Em setembro, o clube foi comprado pelo fundo de investimento norte-americano 777 Partners, por cerca de 150 milhões de euros. Este grupo, com sede em Miami, nos Estados Unidos, já detinha na Europa 6% do Sevilha, da I liga espanhola. Recorde-se que na Serie A, AC Milan, Roma, Fiorentina, Bolonha, Spezia e Veneza também têm donos norte-americanos..Na segunda-feira, mal foi formalizado o acordo definitivo da venda do clube à 777 Partners, os proprietários anunciaram o nome do novo presidente, que vai ocupar o cargo de Enrico Preziosi, que salvou o clube da falência em 2003 quando o adquiriu..E o nome do homem que vai presidir ao Génova foi também uma surpresa. Trata-se de Alberto Zangrillo, 63 anos, nada mais, nada menos do que o médico pessoal de Silvio Berlusconi, antigo primeiro-ministro italiano que também esteve vários anos ligado ao futebol como presidente do AC Milan..Twittertwitter1460272097821966346.Zangrillo, natural de Génova, sempre foi um fervoroso adepto do clube genovês. Inclusivamente, de acordo com a imprensa italiana, terá até tentado convencer Berlusconi a comprar o clube em 2017. Mas a operação nunca se chegou a concretizar. Especialista em doenças do foro cardíaco, o médico teve um papel de grande relevo nos últimos meses no combate à covid-19..O clube que no passado chegou a ser representado por jogadores como o internacional brasileiro Branco (ex-jogador do FC Porto), Tomas Skuhravy (ex-Sporting) e Diego Milito, quer entrar agora numa nova era. E a estreia de Andriy Shevchenko é já neste domingo, precisamente com uma receção à AS Roma de José Mourinho. O técnico ucraniano, que foi treinado no Chelsea pelo Special One em 2006-07, já admitiu que tem como referências o português e Carlo Ancelotti, atualmente no comando do Real Madrid.."A Itália é um país importante do ponto de vista futebolístico. A escola italiana é importante. Ter trabalhado com treinadores como Ancelotti, Zaccheroni e Cesare Maldini foi uma grande experiência. Vir treinar em Itália significa entrar no mundo do futebol italiano para poder desafiar os grandes treinadores que agora trabalham cá. É uma oportunidade estimulante, há muito tempo que esperava por isto. Há muito o que fazer, mas isso não me assusta: pelo contrário, motiva-me. Os nossos jogadores são muito bons. O primeiro objetivo é chegar a uma posição na classificação que nos permita respirar e trabalhar com tranquilidade", considerou Shevchenko, vencedor da Bola de Ouro em 2004..nuno.fernandes@dn.pt