O novo disco dos The Gift foi feito com tempo e tranquilidade. E isso ouve-se.
Quando lhe perguntaram se ele queria produzir o seu novo disco, Brian Eno, o músico e produtor britânico que trabalhou com nomes como Roxy Music, David Bowie, U2 ou David Byrne, respondeu-lhes que não, que não iria produzir o disco dos The Gift mas que gostaria de trabalhar com eles: "I think we"ll have great fun", respondeu-lhes. Ou seja: "Acho que nos vamos divertir imenso". E assim foi.
Nuno Gonçalves e Brian Eno tinham-se conhecido meses antes, no Rio de Janeiro, quando ambos estavam em trabalho de pesquisa sobre a forma como a música, e a arte em geral, estava a ser usada como instrumento social nas favelas. "Foi ali que começou uma relação de amizade", lembra Nuno. "Nós nunca falávamos de música, falávamos de histórias à volta da música. Até que um dia ele teve oportunidade de nos ver ao vivo, num concerto ótimo, e ele apaixonou-se pela banda e pela voz da Sónia." Foi Sónia Tavares que, depois disso, fez o tal convite a Brian Eno. Isto foi em 2014.
Foi em Meder, perto de Vigo, que se juntaram. "Ele achava que devíamos estar num sítio onde estivéssemos relaxados, próximos do mar, próximos da montanha, sem pressão nenhuma", lembra Nuno. "Levámos o nosso material todo e montámos um estúdio. Trabalhávamos todos os dias, logo de manhã." Os Gift levaram as suas composições mas deixaram-se guiar pela intuição de Brian Eno que os levava a colocar tudo em causa e a inventar processos. "É um produtor que te dá novos braços, novas pernas, novos dedos. Ao princípio estranhamos mas acabamos por nos habituar porque, no fundo, são partes de nós, só que não sabíamos que existiam", conta Nuno. Doze sessões depois o disco estava feito.
O processo está contado no livro The Gift 20, de Nuno Galopim, editado por ocasião dos 20 anos do grupo. Aí estão as palavras de Brian Eno: "Este disco foi uma das melhores experiências em estúdio que alguma vez tive. (...) Nunca houve uma única discussão pelo facto de o ego de alguém estar a ser beliscado. Tanto quanto me lembro nem houve discussões de todo!"
"Foi um disco feito com tempo, nós estávamos muito felizes. E isso nota-se no resultado", conclui Nuno Gonçalves. Eles - Nuno, Sónia, John e Miguel - já o sabiam quando subiram ao palco da Meo Arena em novembro de 2015, e agora, que Altar chega finalmente às lojas, têm a certeza absoluta: "Este é o melhor disco dos The Gift". Nuno explica: "Era muito importante nós arrumarmos os 20 anos dos The Gift e começarmos quase de novo. Redefinirmos um rumo. Conseguimos juntar o melhor que tínhamos enquanto compositores, conseguimos limar algumas coisas que não era tão perfeitas e chegar a um sítio novo, original. É mais do que um refresh, é um caminho novo."
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Os dez temas são cantados em inglês. O título é em português: Altar porque este "é um disco cerimonial no sentido em que há ali muita entrega e muita fé". Os The Gift acreditam muito neste novo trabalho e parece que não são os únicos. A revista Uncut deu-lhes uma classificação de 8 em 10 e os primeiros concertos "lá fora" correram bem. Até ao final do ano, haverá muitos concertos em Portugal - a começar já nos dias 13 e 14 em Alcobaça e no dia 19 no CCB, em Lisboa - e a ideia é, no próximo ano, atuar em festivais no estrangeiro. "Nós, com a experiência que temos, não nos vamos iludir. Mas acreditamos muito no nosso trabalho e que, se ouvirem, as pessoas gostam, seja em Macedo de Cavaleiros ou em Berlim."
Altar
The Gift
La Folie Records
PVP: 15,90 euros