O Neptuno que nasceu há 30 anos na maior tempestade dos Açores

A paixão pela fotografia e pelas tempestades fez o <em>Peter </em>sair para a rua quando todos se abrigavam. Registou um momento único: uma massa de água que embate na rocha e forma o deus do mar
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O furacão Alex vinha com aviso de receção. Alerta vermelho, o arquipélago dos Açores acautelou no que pôde a fúria dos elementos. Há quase 30 anos - mais precisamente a 15 de fevereiro de 1986 - o temporal chegou sem avisar. E José Henrique Azevedo, o (atual) Peter do Faial, fez a fotografia da sua vida: um Neptuno feito de mar, com uma rebentação de 60 metros de altura. Foi a maior tempestade dos últimos anos nos Açores, com ventos de mais de 225 km/hora, e tem uma foto para a posteridade.

José Henrique Azevedo está agora à frente do pequeno café que serve gin com vista para o Pico, o Peter Café Sport. Um negócio de família, que avô Ernesto germinou e a que o pai Henrique deu forma em 1918. Naquele dia 15 de fevereiro tinha 27 anos e estava a trabalhar no café do meio-dia às quatro da tarde, a fase mais rija do temporal. Apaixonado pela fotografia e por tempestades, mal acabou o serviço saiu num carro com dois amigos "para o carro ficar um pouco mais pesado". E foi fotografar.

"Primeiro tentámos o Monte da Guia mas não conseguimos passar porque tinham caído várias árvores e o caminho estava impedido, tentámos a zona sul da cidade, o Porto Pim, depois subimos para perto do posto meteorológico [Observatório Príncipe Alberto do Mónaco] e foi aí que fiz a fotografia do Neptuno."

José Henrique está do outro lado da linha, no Peter, a relembrar aquele dia. Estava entusiasmado porque sempre gostou de ver tempestades, as ondas grandes, "aquelas montanhas de água". Fez uma série de fotografias. Máquina analógica, claro, foi há 30 anos (menos um mês). "Esperava que viesse uma onda, fotografava". Na altura o vento tinha amainado e lá se segurou de máquina na mão.

Mas a revelação do Neptuno na Horta não chegou logo. No verão seguinte fazia, como tanto gostava, projeções das fotografias que ia registando ao longo do ano. "Fotografava com slide. Costumava projetar essas imagens em frente do café, com música, à noite. Mostrei as imagens desse dia e as pessoas ficaram surpreendidas. Ninguém tinha saído de casa." E o facto é que também ninguém viu o Neptuno.

A verdadeira revelação chegou dois anos depois, quando passou os slides a papel. E não foi logo. "Estava a mostrar as fotos a uns estrangeiros iatistas e um empregado meu que é surdo mudo passou e foi o primeiro a ver que se tinha formado um rosto humano."

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