Neste ano o mundo vai celebrar o 30.º aniversário da queda do Muro de Berlim. Trinta anos depois, em vez de uma mentalidade "é preciso quebrar os muros" temos uma "mentalidade fortaleza". Em vez de uma Europa unida temos uma Europa desunida. Como é que se chegou a isto? 1989 marcou, de facto, o fim de uma era e o início dos anos do pós-comunismo. Porém, a queda do Muro coincidiu com - e contribuiu para - uma aceleração da globalização e da tecnologia. Estávamos deslumbrados com a nova unidade da nossa casa comum europeia. Na América, um académico proclamou "o fim da história". Mas a história tinha outros planos. O nacionalismo nunca desapareceu. Foi apenas abafado. Então, quando surgiu a crise financeira, em 2008, o sistema deixou de funcionar para cada vez mais pessoas, em simultâneo, numa altura em que a crescente globalização acelerada estava a transferir empregos para os países em desenvolvimento. Isso coincidiu com o despertar de tecnologias que, pela primeira vez na história, permitiram aos pobres ver como as outras pessoas viviam e tentar chegar lá mais depressa do que antes acontecia. Com os níveis de vida a cair em vários países europeus, por causa da austeridade, houve uma entrada de pessoas dos países em desenvolvimento. Isso causou um choque nacionalista entre as pessoas que receavam perder os seus empregos, os seus benefícios sociais e a sua cultura. Numa atmosfera de "todos contra todos" o canto da sereia dos populistas é amplificado. À medida que se vai ouvindo mais alto, os líderes nacionais começam a cantar a mesma canção e sentem-se forçados a abordagens menos internacionalistas. Na UE vimos isso com o Brexit, na Polónia, na Hungria e a recusa de muitos Estados em aceitar as quotas de refugiados que a senhora [Angela] Merkel disse que eles tinham de aceitar..Metade das barreiras erguidas desde a II Guerra Mundial foram erguidas nos últimos 18 anos. Que padrões estão a ser repetidos? Que lições não aprenderam os europeus? Em 1945 a Europa aprendeu as lições não só da II Guerra Mundial, mas também dos últimos mil anos. A resposta foi a UE. Porém, há um limite para a memória e a memória da guerra desvanece-se, é cada vez mais difícil defender a necessidade de "uma União cada vez mais estreita". A somar a isso, como referi, quando os eleitorados e os Estados se sentem ansiosos constroem muros. As vedações na Europa são temporárias e respostas parcialmente bem-sucedidas aos movimentos de pessoas - vedações na fronteira entre a Grécia e a Turquia, a erguida à volta da Hungria, da Bulgária e outras. Até as erguidas em Calais para evitar a entrada no túnel e nos ferries. Quanto aos padrões, o verdadeiro padrão é o da história da humanidade ela própria - quando suspeitamos de algo, estamos ansiosos ou a competir por recursos, primeiro construímos a diferença "entre nós e eles" na nossa mente e, a partir daí, surgem as barreiras físicas..Um muro é um estado mental, diz, no seu novo livro. Provocado pelo medo do desconhecido e do que é diferente, diria eu. Quão espertos são políticos populistas como [o primeiro-ministro húngaro] Viktor Orbán e [o vice-primeiro-ministro italiano] Matteo Salvini ao manipular esses medos? Se julgarmos a esperteza pelo sucesso dos que estão a manipular os medos então ambos os líderes são bem-sucedidos. Ambos reagem aos medos existentes, depois exacerbam esses medos. Isso é ser esperto ou astuto?.Apesar de tudo, o Muro de Berlim era diferente dos outros. Visava impedir as pessoas de saírem, não de entrarem. Quando olha para todas as barreiras, vedações, muros, proteções que existem hoje, qual a que lhe parece mais semelhante com o Muro, em termos de propósito? Aquilo a que o Tim chama a Grande Firewall da China? Não. O Muro de Berlim foi desenhado para manter as coisas dentro: pessoas. A Grande Firewall é desenhada para manter coisas fora: ideias..No que respeita à fronteira israelo-palestiniana e ao processo de paz do Médio Oriente, diz que quase tudo foi tentado e quase tudo falhou. O que pensa do plano Paz para a Prosperidade apresentado por Jared Kushner, o genro do presidente norte-americano Donald Trump? Em teoria, o plano merece que se olhe para ele, porque tenta algo novo - trazer a paz através da construção da prosperidade. Porém, carece de compromisso e não parece ter em consideração as emoções ou o facto de que, apesar da prosperidade, haverá sempre fanáticos que vão tentar dar cabo de tudo. A frase indicada a usar para caracterizar o plano não é "morto à chegada" mas sim "morto na abordagem"..Sublinha ainda o facto de haver muitos muros que não são necessariamente nas zonas de fronteira entre dois países. A Zona Verde em Bagdad, no Iraque, era um desses exemplos. Como é viver e trabalhar numa zona delimitada como esta? Discutível mas necessária na altura. Nenhum político iraquiano conseguiria ter negociado com as forças da ocupação ou sobrevivido aos esquadrões suicidas sem aquele refúgio da Zona Verde. As forças da ocupação também teriam mais baixas a reportar se não estivessem escondidas atrás dessas paredes. Era um lugar surreal. Todos os dias se ouvia explosões de carros-bomba na cidade e noutros dias explodiam morteiros até dentro da zona. O mais surreal era o PX - a zona dos cafés e das lojas para os militares norte-americanos - onde se podia ir ao Burger King e etc. Chegar e sair da zona era uma experiência e tanto. Num carro era preciso ter colete à prova de bala, um ou mais seguranças armados e um helicóptero por cima, para o caso de se precisar de tecnologia de interceção de mísseis..Diz que Donald Trump tem razão em relação à necessidade de controlar a migração, apesar de não concordar com a ideia de mais um muro. Qual é a política mais indicada então? O Congresso [dos EUA] deve votar fundos para reforçar a passagem fronteiriça que já existe (através da qual muitas pessoas são traficadas) e fundos para financiar a melhoria dos procedimentos para lidar com as pessoas que surgem na zona de fronteira..Apesar de existirem muros, o movimento de pessoas é uma coisa que sempre existiu. No futuro, podemos esperar uma Europa mais africana e uns EUA mais hispânicos? Sim. A demografia é clara, tal como o é a direção daqueles que procuram uma vida melhor - a maioria desses viajam do sul para o norte.