"O meu trabalho é como um ato de resistência. Toda esta velocidade que está à nossa volta faz parte do nosso quotidiano, mas o nosso ritmo de pensamento continua a ser o mesmo de há muitas décadas", sustentou a artista argentina de 33 anos..Claire de Santa Coloma falava aos jornalistas no Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), no final do anúncio prémio principal, no valor de 20 mil euros, e da menção honrosa para a também finalista Ana Guedes. .Para esta edição do galardão de iniciativa bienal, que visa revelar e apoiar talentos nas artes plásticas e visuais, tinham sido selecionados seis finalistas: além da vencedora, os portugueses Ana Cardoso, Bernardo Correia, João Gabriel, Ana Guedes e Igor Jesus..Candidata ao prémio com a obra "Composição Eterna" de escultura em madeira, a artista - nascida em Buenos Aires e a residir em Lisboa há oito anos - disse aos jornalistas que a sua maneira de trabalhar "é uma reflexão sobre os tempos que estamos a viver".."A lentidão não é sempre uma coisa má, nem a velocidade é uma coisa má. Este trabalho é uma reflexão sobre o tempo. Nem tudo tem de ser veloz", defendeu. .O júri internacional, que não alcançou unanimidade sobre a obra, sublinhou que esta "revela uma invulgar independência", é um "exemplo de dedicação, uma importante reafirmação de liberdade", e "transcende a sua própria técnica" artesanal em escultura de madeira. .A escultura em madeira de Claire de Santa Coloma esteve, nas preferências do júri, muito a par da escultura sonora de Ana Guedes, que acabou por receber uma menção honrosa.."O meu trabalho implica tocar, portanto precisa de uma presença física. E hoje em dia passa quase tudo pela comunicação, as coisas são vistas por imagens digitais. E nem sempre as imagens estão de acordo com a realidade. Para mim, o mais importante é fazer a experiência da obra de arte", sublinhou ainda..No quadro da velocidade que critica, a artista argentina falou nas pressões exercidas sobre os artistas: "Hoje em dia exigem aos artistas que sejam empresários, que paguem as contas, ganhem prémios", e que tenham "sempre ter um discurso construído". "Para mim, o mais importante é construir o trabalho em si"..Claire contou que veio para Portugal há oito anos "por amor", depois de ter estudado cinco anos em Paris, e acabou por decidir ficar em Portugal, porque "surgiram muitas oportunidades", nomeadamente a aquisição de uma obra para a coleção António Cachola, em Évora.."Esta é uma grande oportunidade e reconhecimento do trabalho feito, fiquei muito contente com o prémio", disse, sobre a escolha do seu trabalho, realizado com "uma técnica muito tradicional de talha direta"..Ressalvou, no entanto, que o trabalho em si não se resume à técnica usada na madeira, mas "é sobre a própria escultura, como apresentar a escultura, e como vivemos com a escultura".."A ideia era transformar o espaço expositivo num espaço de convivência tanto dos visitantes como das obras entre si", explicou, comentando que não esperava ganhar, e ficou entusiasmada..Para o futuro, os planos de Claire de Santa Coloma passam por construir uma carreira definida pelo trabalho: "Essa é a minha maior responsabilidade. Eu quero continuar a ser fiel a mim própria, e ter qualidade no meu trabalho"..A artista estudou escultura de talha direta nos Ateliers Beaux Arts de la Ville de Paris, fez um mestrado de investigação em artes plásticas na Universidade de La Sorbonne, e frequentou o programa de Estudos Independentes da escola de artes Maumaus, em Lisboa..O júri que escolheu o vencedor foi presidido pelo diretor do MAAT, Pedro Gadanho, e composto ainda pelo artista Eduardo Batarda, a diretora do Museu Gulbenkian, Penelope Curtis, o artista Bill Fontana e o co-diretor da Kunsthalle Lissabon, João Mourão..O valor do prémio destina-se ao aprofundamento dos estudos ou à concretização de um projeto artístico específico pelo vencedor..Nas edições anteriores foram vencedores Joana Vasconcelos, Vasco Araújo, a dupla João Maria Gusmão/Pedro Paiva, Carlos Bunga, André Romão, João Leonardo, Leonor Antunes, Gabriel Abrantes, Priscila Fernandes e Mariana Silva..As obras dos artistas finalistas desta edição estão em exposição no MAAT até 09 de outubro.