"O meu ego não fica inchado quando me vejo num poster"

É o novo menino querido do cinema francês e nesta semana transforma-se em motorista hipster a levar Depardieu pelo circuito dos melhores vinhos em "Saint Amour", uma comédia com teor alcoólico. Vincent Lacoste conta-nos que era fã de Depardieu desde miúdo...
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É um dos valores mais seguros dos atores da nova geração do cinema francês. Uma espécie de clown chique sempre com um humor muito localizado na primeira pessoa, Vincent Lacoste, agora com 23 anos, foi revelado em Uns Belos Rapazes, de Riad Sattouf, enorme estrondo há cinco anos, na Quinzena dos Realizadores, secção independente realizada em paralelo com o Festival de Cannes. A partir daí não parou e tem conseguido alternar o cinema mais comercial com propostas mais artísticas. Entre os seus filmes, destaca-se o sucesso Hippocrate, de Thomas Lilty, e a sua participação humorística em Astérix ao Serviço de Sua Majestade, de Laurent Tirard.

Como é representar ao lado de dois ícones como Gérard Depardieu e Benoît Poelvoorde?

Foi muito bom. O Gérard já o conhecia, contracenámos no último Astérix e foi muito bom para mim, deixei de ter medo dele. A verdade é que os dois são pessoas muito divertidas e curiosas, querem sempre saber o que estás a sentir. Além do mais, são dois grandes atores, o que torna tudo mais fácil. Desde criança que era fã do Gérard e do Benoît...

Consegue perceber que o humor desta dupla, Benoît Delépine e Gustave Kervern, aqui, de alguma forma, fica mais suavizado?

Sou muito entusiasta do cinema deles. Fazem free cinema. Primeiro vi Mammuth e gostei tanto que quis ver tudo o que eles tinham feito. Têm um humor muito típico e são realmente livres. Gosto dessa ideia deles de filmar a solidão das pessoas pela estrada fora. Mas gosto também da loucura de todas as suas personagens, mesmo que paralelamente se desenrole um jogo capaz de convocar poesia e melancolia. São os únicos a fazer isso. Este, em particular, é o filme mais doido da dupla

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E qual a maneira de entrar nesta doideira?

Deixar-me ir. E foi fácil, pois os realizadores trabalham sempre com a mesma equipa técnica. Aquilo parecia realmente uma grande família, em que todos eram especialmente bondosos. Foi muito fácil entrar neste mundo, mesmo quando só havia um mês de rodagem e em que num dia fazíamos umas dez cenas. Muitas vezes, tudo acontecia apenas de manhã, pois à tarde o respetivo presidente da câmara convidava-nos para almoçar e ofereciam-nos garrafas do vinho local. Resultado, tudo ficava feliz mas muito menos produtivo...

É um dos poucos nomes novos no cinema francês que são capazes de chamar público apenas pelo seu nome no poster. Já parou um pouco para pensar nisso?

Não quero armar-me em falso modesto, mas julgo que hoje as pessoas já não vão ao cinema apenas porque está lá o ator que gostam. Sei que fiz filmes que correram bem nas bilheteiras, mas também fiz filmes de arte e ensaio que são vistos por ninguém... Tento fazer os filmes de que gosto porque sou um fã de cinema. Uma grande parte da minha vida é ser espectador de cinema. Ainda assim, o meu ego não fica inchado quando me vejo num poster de um filme. Não sou nada como as estrelas de Hollywood. Se calhar, estou a ser preconceituoso, mas a verdade é que o importante para mim é fazer bons filmes. O problema é que os bons filmes, por vezes, em França não funcionam nas bilheteiras. As pessoas em França vão ao cinema ou ver as comédias más ou os filmes de grande orçamento sem qualidade.

Entrou no cinema através de um casting, mas até hoje nunca estudou representação. Nunca sentiu falta?

Não creio que seja assim tão importante. O que se passa comigo é que, antes de cada filme, trabalho muito. Até poderia tirar um curso ou coisa assim, mas não acredito que haja só uma maneira de representar. Se calhar é uma opinião preguiçosa de alguém que não estudou...

Já se sentiu demasiado à vontade num plateau de cinema?

Sou muito educado nos plateaux. Mas... sim, um bocadinho...

Em Berlim

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