Em recentes declarações ao DN, C. Moedas sustenta que "teria todo o sentido que o Metro fosse gerido pela Câmara Municipal de Lisboa (CML)", porque "todos os dias [recebe] queixas do Metro", e "toda a gente acha que o Metro também é da Câmara". Não é o primeiro presidente da CML a defender tal. Todavia, convém recordar aos arautos destes arroubos de reclamação do Metro para a esfera do Município de Lisboa - que tem <19% da população da Área Metropolitana de Lisboa (AML) - que nunca foram sequer capazes de planear algo tão simples como grandes áreas de parqueamento automóvel (com silos) nas várias entradas do Município de Lisboa, onde existem estações do Metro ou comboio para escoamento de grandes quantidades de pessoas. Como é meridianamente claro, até pelo nome, o Metro é um transporte de massas para uma área metropolitana. É assim em Paris, Londres, Moscovo, Hong Kong, Tóquio, e em muitas outras áreas metropolitanas. Na AML não é diferente, sendo mais premente em virtude da necessidade de ter sistemas de transportes coletivos que facilitem não apenas a circulação na área metropolitana - incluindo o acesso entre Lisboa e as áreas urbanas [de dormitórios] nos concelhos à volta do Município de Lisboa -, mas também que estimulem a procura por habitação nesses concelhos vizinhos por forma a diminuir a pressão relativamente ao imobiliário residencial no Município de Lisboa. Porém, nas últimas décadas, não apenas o investimento em transporte ferroviário tem sido quase inexistente, como o planeamento da expansão do Metro de Lisboa tem estado despudoradamente focado no Município de Lisboa. O Metro precisa de ser concebido como o principal meio de transporte de massas na AML e, para isso, precisa de cobrir muito mais zonas urbanas vizinhas ao Município de Lisboa (para além da Amadora e Odivelas), sendo imperioso ponderar outras formas complementares de transporte rápido - como o RER, em Paris. O planeamento e a execução das atividades do Metro deviam ser feitos sob a tutela da entidade intermunicipal "Transportes Metropolitanos de Lisboa". Mas isso nunca foi feito e a empresa pública "Metropolitano de Lisboa" continua alegremente a reforçar a rede dentro de Lisboa, com desprezo pelos interesses das populações de outros municípios da AML..Lamentavelmente, a organização administrativa das áreas metropolitanas não estimula uma eficiente gestão destas. A preocupação dos autarcas é com os seus munícipes, pouco tempo perdendo com a articulação com os outros municípios da área metropolitana. Para resolver eficazmente problemas da AML, como o planeamento dos transportes coletivos, em vez de se esperar eternamente por uma melhor coordenação entre municípios da AML - que dificilmente irá ocorrer quando o paroquial Moedas assume esta postura leviana... - deve ponderar-se a alteração da gestão da área metropolitana. Por exemplo, criando a figura de um governador eleito por sufrágio direto e universal e poderes para coordenar tudo o que se refere a infraestruturas na área metropolitana, sobrepondo-se aos municípios. E deixando de perder tempo com a mirífica criação de Regiões Administrativas, já rejeitada em referendo..Consultor financeiro e business developer www.linkedin.com/in/jorgecostaoliveira