O mergulho em que os Radiohead se reinventaram. Com "Creep" no final
Quando se mergulha numa piscina em forma de lua, o melhor é nadar ao sabor da forma com que é desenhada a água - nada como deixar-se ir, perscrutar os sons, ouvir as pausas, reconhecer as melodias. É assim que se entra na música dos Radiohead, regressados à tona com A Moon Shaped Pool, obra com que se apresentaram esta sexta-feira à noite no festival NOS Alive perante 55 mil pessoas.
Foi sem surpresas aliás, para quem tem espreitado o alinhamento dos concertos que os Radiohead têm apresentado na sua nova digressão, que, pouco depois da 22.45, a banda de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Ed O'Brien, Colin Greenwood e Phil Selway começou logo a abrir com os cinco primeiros temas desse novo álbum, convidando todos os presentes a mergulharem no seu mais recente (e belo) trabalho.
A incontornável Burn the Witch (já com lugar garantido no panteão dos Radiohead), com que também abre o álbum, fez as vezes de apresentação do concerto, seguindo-se as mais introspetivas Daydreaming, Decks Dark, Desert Island Disk e a bem mais sincopada Ful Stop. Foi esta a contrassenha - no ritmo e no tom - para o salto para a restante obra dos Radiohead, que tinham preparadas algumas surpresas lá mais para o final.
No mergulho entre passado e presente, os Radiohead souberam fazer um alinhamento em que tão bem se percebe que o álbum de 2016 melhor reinventou a sonoridade dos rapazes de Oxford: Exit Music (for a film), de Ok Computer (1997), parecia que estava a pedir The Numbers como a nova e esdruxulamente dançante Identikit antecipou Reckoner, Everything in Its Right Place e Idioteque, uma sequência com licença para pular e saltar e dançar.
Foi também esse mergulho que nos trouxe Street Spirit (Fade Out), desse segundo grande amor que foi The Bends (1995), a fechar num primeiro tempo o concerto. Faltavam os encores (foram dois, com mais sete temas a somarem-se aos 17 até aí tocados) com Paranoid Android metido entre Bloom, Nude, 2+2=5 e There There.
A surpresa maior vinha depois, no novo regresso ao palco. Num mergulho adolescente, todos reconheceram Creep, tantas vezes proscrita pela banda, cantada em coro por um público que sabia cada um dos versos, e Karma Police, nova revisitação a Ok Computer, o álbum com que os Radiohead se entranharam de vez nas nossas vidas. Vinte anos depois continuamos a gostar de saltar para a água.
[texto atualizado e reescrito já depois do concerto finalizado]