Quem chega a Times Square e não se lembra do beijo mais famoso do mundo? Ninguém, certamente. Porque aqueles que ainda não têm idade para saber o que ali se passou ou aqueles que não retêm na memória alguma história contada pelos pais, avós ou bisavós sobre aquele que se tornou o beijo mais famoso do mundo ficarão a saber algo assim que pisarem Nova Iorque..Quanto mais não seja porque a imagem de Alfred Eisenstaedt, que corre o mundo há mais de 70 anos, continua a dar vida às montras das lojas de recordações, se não for no formato de foto, é no de cinzeiro, de T-shirt ou até de caneca..O certo é que o marinheiro e a enfermeira que naquela tarde de 14 agosto de 1945 se cruzaram na praça de Nova Iorque e festejaram o fim da II Guerra Mundial ficaram para a história, apesar de a identidade dos protagonistas ter sido sempre polémica, com dois casais a reivindicarem os louros..A fotografia foi analisada vezes sem conta por peritos forenses e sempre para se confirmar a identidade de um homem e de uma mulher. Muitas entrevistas foram dadas a muitos órgãos de comunicação social com os dois casais a dizerem: "Sou eu." Mas com a morte de George Mendonsa, o lusodescendente, com origens nos Açores, ninguém mais poderá voltar a dizê-lo de viva voz..George, o único que aos 95 anos ainda poderia contar a sua história e mostrar as provas que tinha e que confirmavam ser ele o protagonista, morreu no domingo, 17 de fevereiro. A notícia foi dada pela filha, Sharon Molleur, ao Providence Journal. As provas que tinha, George mostrou-as a um repórter do Diário de Notícias, para serem publicadas depois no dia 15 de janeiro de 2011 numa reportagem da revista Notícias Sábado, que integrava o DN e o JN. O repórter, Alexandre Soares, chegou a ganhar o prémio Gazeta Revelação com este trabalho..George Mendonsa e Greta Friedman, uma assistente de dentista que naquele dia usava um uniforme de enfermeira, e que chegou a contar ter sido surpreendida pelo beijo do marinheiro, eram o casal que a tecnologia de reconhecimento facial confirmou serem os protagonistas daquele momento..Greta morreu em setembro de 2016, aos 92 anos, em Richmond, na Virgínia. George sucumbiu neste domingo, após uma convulsão e queda, no centro onde vivia com a atual mulher, em Middletown, Rhode Island..Segundo a filha, George morreu dois dias antes de fazer 96 anos. E disse sempre em várias entrevistas não ter encontrado melhor forma de festejar o fim da II Guerra Mundial do que com um beijo, mesmo com uma estranha. "Foi o momento. Volto do Pacífico e, finalmente, a guerra acaba. Era a excitação. Eu tinha tomado algumas bebidas e quando vi a enfermeira, agarrei-a e beijei-a", contou à CNN e à CBS News, em 2012..Outro marinheiro, McDuffie, e a enfermeira Edtih Shain eram o outro casal que reclamava ser protagonista da imagem de Alfred Eisenstaedt, publicada tempos depois na revista norte-americana Life. McDuffie morreu aos 86 anos em março de 2014. Na altura, a estação de televisão ABC afirmava ter sido ele o marinheiro que em 2007 foi identificado como o homem que beijou a enfermeira. Neste caso, Edith Shain, a primeira dos quatro a falecer, aos 91 anos, em junho de 1991..Nesta história, e para além deste casal, é de referir que houve 11 marinheiros e três enfermeiras que afirmavam ser eles que estavam na imagem. Tal era o sonho ou a fantasia de poder participar num momento que ficou para a história. Mas Mendonsa tinha provas de que naquele dia estava de folga e num encontro com uma outra mulher, Rita Petry, de cabelo negro e apanhado, imagem captada ao fundo na mesma foto, quando ouviu dizer que a guerra tinha acabado e, não controlando o impulso, apanhou a mulher que passava ao seu lado e beijou-a..Mais tarde foi Rita quem veio confirmar à cadeia CBS que era George que estava na foto e que ela não se importou que ele tivesse beijado outra mulher no meio das celebrações do fim da guerra. Na verdade, e segundo conta o jornal The Guardian, ela não se importou porque foi ela, Rita, que se tornou mulher de George durante mais de sete décadas. "Ele era o marinheiro do beijo", afirmou..Mendonsa era pescador, como o pai, mas na guerra pilotou um destroyer. Lawrence Verria, um professor de História de Rhode Island e um dos autores do livro The Kissing Sailor, disse ao Providence Journal que este homem era "realmente maior do que a vida". Mendonsa casou-se com Rita e tiveram dois filhos.