O maior desafio desta geração decide-se na COP26

Publicado a
Atualizado a

O recente relatório do IPCC, com a 6.ª avaliação das alterações climáticas, é inequívoco: por influência humana, o planeta está a aquecer e a um ritmo sem precedentes. É com esta confirmação científica como pano de fundo, e ainda a sofrer das consequências de uma pandemia que resulta de desequilíbrios sérios na nossa relação com o planeta, que irá ocorrer, em novembro, a 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26).

Apesar de ratificado pela generalidade dos países, em 2016, o Acordo de Paris sobre o clima encontra-se em sério risco de falhar a sua missão de limitar o aumento global da temperatura a 1,5°C face à era pré-industrial (1880), pois as medidas que estão a ser adotadas são claramente insuficientes (e dado que a temperatura já aumentou 1°C). Os dois anos mais quentes de sempre foram nos últimos cinco anos e tem-se vindo a bater recordes de temperatura nos últimos dois anos no círculo polar ártico (acima dos 45°C). Segundo a comunidade científica, se todas as reservas de gelo derretessem - da Gronelândia à Antártida, incluindo o permafrost -, o nível do mar subiria até 60 metros (o dobro da Torre de Belém), para além de inúmeros outros impactes - tais como eventos climáticos extremos, morte dos recifes de coral, desflorestação e perda de biodiversidade -, que teriam profundas consequências sociais e económicas.

Limitar o aquecimento da Terra a 1,5ºC obriga a descarbonizar o mundo - o que implica reduzir em mais de metade as emissões globais de gases com efeito estufa (GEE), até 2030. O desafio é enorme, dado que a redução anual necessária ao longo desta década é superior à que ocorreu em 2020 - ano em que as emissões registaram uma quebra histórica de 5,8%, mas devido ao confinamento. Ou seja, depois de décadas de aumento progressivo e acelerado das emissões - desde 1750, mais de metade das emissões ocorreram depois de 1990 -, será necessário reduzi-las abruptamente e num contexto (muito mais exigente) em que as nossas vidas e economias não estarão confinadas.

Na década de 1980, conseguimos banir o uso de CFC, o que está a permitir a recuperação do buraco na camada de ozono. Com os combustíveis fósseis o desafio é bem maior, dado que estão muito mais entranhados nas nossas economias e quotidiano (as energias renováveis representam apenas 11% do mix energético global). A boa notícia é que dispomos dos níveis de conhecimento e riqueza suficientes para promover essa transição, assim sejamos capazes de aliar o poder dos nossos comportamentos - como cidadãos, consumidores, investidores e profissionais - ao poder regulador dos Estados. Em particular, urge:

- Uma melhor distribuição da riqueza: não é sustentável que os 1% mais ricos do planeta detenham o dobro da riqueza que os 90% mais pobres, desde logo porque, sem coesão social, é impossível conquistar as pessoas para os desafios do planeta;

- A adoção rápida de mecanismos de mercado a nível global, tais como taxas de carbono e a remuneração de serviços de ecossistema;

- Melhorar os incentivos (fiscais e não só) à investigação e desenvolvimento de novas soluções e às finanças sustentáveis, bem como eliminar os atuais incentivos aos combustíveis fósseis;

- Uma aposta nos setores da educação e da cultura, com vista a uma tomada de consciência mais aguda e abrangente acerca da necessidade de acelerarmos a transição para sociedades menos materialistas e menos consumistas.

Secretário-geral do BCSD Portugal

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt