São poucos, novos ainda nestas andanças da política, embora a maioria sejam avós, mas não lhes falta alento, porque estão convictos do que defendem: dignidade e justiça social para todos. Para os reformados e pensionistas, palavras-chave do seu próprio nome, mas também para os jovens. "Hoje não têm emprego e precisam da ajuda dos pais, muitos deles reformados que tiveram cortes nas pensões", diz António Dias, 59 anos, técnico administrativo aposentado e cabeça de lista por Lisboa do PURP, o Partido Unido dos Reformados e Pensionistas..Esta pode ser a primeira campanha eleitoral do recém-nascido PURP - "oficializámos o partido em julho", esclarece António Dias -, a verba de que dispõem, cerca de oito mil euros conseguidos entre todos, é escassa, a sede está numa casa emprestada, e confessam que "ainda estão a aprender coisas básicas", mas há entusiasmo e "muita vontade de lá chegar". Se não for agora, "será da próxima", acreditam. "Isto está a crescer de dia para dia", garante António Dias..Isto são as ações de rua, o contacto com as pessoas, a campanha eleitoral, que eles fazem "na medida das possibilidades", os panfletos que desaparecem num ápice para as mãos de quem passa. Eles seguem caminho, de bandeiras ao ombro, T-shirts e bonés a condizer, com um sol a brilhar sobre a sigla PURP, em verde..Tem sido assim. E foi assim na última quarta-feira, primeira arruada destes candidatos, que partiu de Campo de Ourique rumo ao Rato, e daí para o Marquês, Avenida da Liberdade abaixo, para os Restauradores, Rossio, Baixa-Chiado e São Bento. Quase meia Lisboa..As reações de quem passa, ou de quem se senta pelas esplanadas a gozar o sol de outono, são variadas. Há muitos que desconhecem o jovem partido dos reformados e ficam com curiosidade. Há quem não queira os papéis e acelere o passo, temendo, talvez, alguma campanha de marketing, das muitas que se fazem por aí a toda a hora. Mas há quem peça o panfleto e fique a lê-lo, quem o aceite e lhe deite um olhar rápido. Outros oferecem palavras de incentivo, "é preciso mudar isto" ou "acho muito bem". E há quem apoie e até se exalte, como uma "anónima" (quis apresentar-se assim) numa esplanada da Avenida da Liberdade, que não poupou palavras: "Aquilo são uns bandidos, uns malandros, é uma pouca-vergonha, cortaram-me na reforma." Não é difícil adivinhar o que será "aquilo"..António Dias e os seus companheiros, reformados todos, ou quase todos, seguem sorridentes. "Abra os olhos", dizem eles às vezes, quando entregam os seus panfletos, onde se lê "Amanhã serás Reformado(a), PURP é o teu Partido. Hoje." Depois estão as fotos dos candidatos, que incluem o jovem Miguel Martins, de 21 anos, e uma lista de 12 propostas que resumem o essencial do que defendem. Reformas mínimas equivalentes ao salário mínimo, "redução do orçamento da presidência e da Assembleia da República em 30%", o "fim dos privilégios a políticos", "o combate à corrupção e punição dos que a praticam, a eleição nominal dos deputados e a redução do seu número para 180. O apoio aos mais desprotegidos, como os ex-combatentes em situação precária ou os idosos sem meios para comprar medicamentos, são outras preocupações do PURP. Querem farmácias sociais e garantem que o problema da Segurança Social "é uma falsa questão".."Começámos como movimento cívico, mas cansámo-nos de tentar falar com os partidos, com o governo, com as instituições, ninguém nos quis ouvir. Criámos o PURP, e cá estamos." Independentemente dos resultados de domingo, já têm uma certeza: realizam o primeiro congresso a 7 de novembro.