Não é novidade que as alterações climáticas estão a afetar o nosso planeta de forma inevitável e irreversível. Assistimos, na fila da frente, ao impacto dessas alterações cada vez mais frequentes, como a atual situação de seca em Portugal, com um défice de precipitação na ordem dos 45% face aos valores de referência, ou com as temperaturas elevadas, incêndios florestais e períodos de cheias que assolam a Europa..O risco climático afeta diretamente as pessoas (saúde, habitabilidade e trabalhabilidade), os bens (empresas, lares e hospitais) e os serviços (fornecimento de energia e alimentos). Apesar de nos períodos de seca as atenções se dirigirem mais para as zonas rurais, a verdade é que as cidades estão na linha da frente dos crescentes riscos físicos associados às alterações climáticas. São o lar de mais de metade da população mundial e, em 2050, prevê-se que esse número aumente para 68%. Ou seja, mais de 800 milhões de residentes urbanos poderão ser afetados pela subida do nível do mar e pelas inundações costeiras, 1,6 mil milhões de pessoas poderão ser vulneráveis ao calor extremo crónico (acima dos 200 milhões atuais) e 650 milhões poderão enfrentar escassez de água..É, por isso, urgente priorizar a adaptação das cidades a estes riscos. Mais do que nunca, os líderes locais (mas também os responsáveis governamentais) devem colocar esta problemática no topo das suas agendas, procurando soluções mais eficazes de adaptação, considerando os recursos e níveis de vulnerabilidade de cada cidade..Neste contexto, a McKinsey & Company desenvolveu um estudo que identifica ações a dois níveis: por um lado, ações que visam a criação de resiliência sistémica e, por outro lado, iniciativas que visam reduzir o impacto de riscos climáticos específicos, como é o caso de calor extremo, inundações, secas, entre outros..No que diz respeito à resiliência sistémica, é essencial avaliar, compreender e incorporar o risco climático no planeamento urbano, mas também otimizar as respostas a emergências, através de sistemas e protocolos de aviso prévio de perigos climáticos. Além disso, há oportunidades de melhorar programas financeiros e de seguros, criando incentivos para aprimorar as políticas de mitigação de riscos e promover a recuperação após um desastre natural..Já para colmatar riscos climáticos específicos, a plantação de árvores nas ruas e a aposta em pavimentos com reflexo solar e telhados frios, para que as superfícies absorvam menos calor são algumas das soluções a adotar. Também a abordagem holística na gestão das bacias hidrográficas, em todo o ciclo hidrológico urbano, para reduzir o risco de inundações, soluções de drenagem urbana sustentável, a construção de barreiras costeiras naturais e barreiras artificiais, que ajudam a reduzir os riscos de inundações, o investimento em edifícios resistentes a tempestades e cheias, o desenvolvimento de programas de mudança de comportamento, promovendo um consumo de água consciente e a aposta em melhorias de eficiência, para evitar as fugas de água, constam da lista de ações para reduzir o impacto de alguns riscos específicos..Ainda que o investimento e a falta de recursos possam constituir obstáculos à adaptação aos riscos das alterações climáticas, detetar os perigos mais relevantes para as cidades e entender o que estes representam para as comunidades são passos importantes e decisivos na implementação de ações adequadas de mitigação. Só assim será possível conduzir análises detalhadas do impacto da redução de riscos, bem como a estimativa de custos e a viabilidade de diferentes opções. Nesta senda, importa não esquecer as populações mais vulneráveis, que podem estar sujeitas a um maior risco de danos relacionados com o clima..A adaptação das áreas urbanas aos perigos climáticos deve ser um esforço constante, e a longo prazo, durante o qual deve ser revisto e monitorizado o progresso alcançado, tendo em vista a alocação eficaz de recursos e investimentos. Neste combate ao aquecimento global, a inércia não é opção, e as cidades têm um papel importante a desempenhar, rumo a um futuro mais sustentável..*Sócio na McKinsey & Company