O hoje canta, amanhã logo se vê

A Grécia falou. 61% não. Um grande, enorme não. "No pasaran", lia-se ontem num dos pendões da manifestação oxi. "Agora tudo é claro", dizia uma grega enfuziante, no meio da festa. Amanhã? Amanhã pensa-se em amanhã - cante ou não
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"Fora da austeridade, fora do memorando. O meu futuro não é o capitalismo, é o socialismo, é a revolução." São 10.30 da noite e Syntagma é um filme de Eisenstein. Vinda da praça Klathmonos, onde estava convocada a concentração dos oxi, uma coluna de bandeiras vermelhas marcha ao som de tambores. No pasaran, diz uma das tarjas. Eleni, 22 anos, professora, é uma das porta-bandeiras. Traduz, com um sorriso, o que estava a gritar. E confessa: "Não esperava esta diferença. Achava que íamos ganhar mas não por tanto."

Eletrizada, a praça levanta sorrisos nos que veem passar o cortejo. Há qualquer coisa de pungente em toda esta alegria, em toda esta bravura, em toda esta bravata. E na ingénua esperança que, por mais que se repitam sentenças kamikaze - "Pode ser que o que vem aí seja pior, mas é por nossa escolha, e nós não desistimos, não baixámos a cabeça", diz Eleni -, subjaz à celebração. A esperança de que, como diz Yannis, músico, 53 anos, "esta seja a chama que vai incendiar a Europa". A esperança de estar a fazer história, a virar a maré. Ao lado dele. Eleni (outra Eleni), jornalista desempregada que não quer dizer a idade, grita, de braços no ar: "Cumprimentos à Senhora Merkel, da Grécia. Não temos dinheiro mas temos a nossa vida nas nossas mãos." E que fazer com ela, a vida, e as mãos? Este resultado significa o quê? A loira Eleni não tem dúvidas, pelo menos esta noite: "Agora tudo é claro." O que é que é claro? "Que o governo, este governo, nos pediu que falássemos, e nós dissemos-lhe o que queremos." E querem o quê? O que é que o governo vai fazer com esse voto de confiança? Ela não desarma: "Há uma via direta entre nós e o governo, é a democracia direta." Democracia, repete. E, mudando de tom, dedo em riste: "Tudo isto aconteceu contra a imprensa grega. Que esteve a fazer de assessora de imprensa de Merkel, o dia todo a mostrar idosos à porta dos bancos. Tínhamos toda a media privada contra nós, e mesmo assim, tivemos 61%. 61%. Sabíamos que íamos ganhar, mas o problema era com que diferença."

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