O 'hat trick' ao Barcelona depois de viver numa pensão no Minho

Boateng, hoje herói no Levante, começou por ser central. Na época passada recebia 2500 euros e vivia numa residência de futebolistas enquanto jogava no Moreirense
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Emmanuel Boateng deixou neste domingo os adeptos do Barcelona à beira de um ataque de nervos e tornou-se a figura da jornada da Liga espanhola. O avançado ganês de 21 anos, que começou a temporada no Moreirense, apontou o primeiro hat trick da carreira na vitória do Levante (5-4) que colocou um ponto final à invencibilidade de 43 jogos (400 dias) dos blaugrana no campeonato. O atacante africano tornou-se o primeiro a marcar três golos aos catalães na liga desde 2005 - sucedeu a Diego Forlán (Villarreal) - e o primeiro da história do Levante a faturar ao Barça e ao Real Madrid na mesma época.

A memorável noite de anteontem tinha tudo para não acontecer para o ganês, chamado pela primeira vez à seleção para defrontar Japão e Islândia no final da época.

Natural da capital Acra, cresceu para o futebol no Charity Stars, um clube fundado por um padre em 1992 para dar oportunidades aos jovens ganeses com poucos recursos. Começou por ser central, mas foi subindo no terreno até fixar-se no ataque.

Há quatro anos, foi submetido a um período experimental no Rio Ave e acabou por ficar, estreando-se aos 18 anos na equipa principal pela mão de Pedro Martins, numa vitória sobre o Gotemburgo (1-0), na Suécia, na terceira pré-eliminatória da Liga Europa.

Depois de uma primeira época em Portugal em que alinhou 28 partidas (dois golos) mas em que alternou entre a titularidade e o banco, foi convocado para o Mundial sub-20 e saiu para o Moreirense. No Minho, viveu uma primeira época menos feliz, na qual efetuou 31 partidas (23 como suplente utilizado) e faturou por três vezes. Contudo, explodiu na segunda, que culminou com a conquista da Taça da Liga, bisando diante do Benfica nas meias-finais. Somou 33 jogos (13 como suplente) e dez golos em todas as competições.

Segundo o jornal desportivo valenciano Superdeporte, Boateng vivia então numa pensão com outros jogadores nos subúrbios de Guimarães e recebia cerca de 2500 euros mensais, mas tudo mudou no último verão, quando o Levante superou a concorrência do Nantes e de equipas alemães ao pagar 2,5 milhões de euros pelo seu passe, tornando-o a segunda contratação mais cara do clube. "Foi uma proposta com valores muito interessantes. Notava-se alguma ansiedade nele, que já sentia o Moreirense pequeno para ele", contou ao DN Manuel Machado, que o orientou no início da temporada.

No Levante, porém, também demorou a convencer. As suas primeiras exibições puseram a nu as suas fragilidades e ditaram uma escassa utilização. Uma incursão na liga norte-americana (MLS) ou um empréstimo ao Moreirense estiveram em cima da mesa no mercado de inverno, contudo, o avançado africano, profundo crente, não atirou a toalha ao chão. "É um menino ambicioso e muito competitivo", frisa Manuel Machado, que fez questão de ver o jogo de anteontem em diferido, já depois de saber do hat trick do ganês.

A entrada de Paco López para o comando técnico deu-lhe um protagonismo que nem uma fratura no osso zigomático esquerdo e consequente cirurgia facial há mais de um mês - razão pela utilização da máscara de proteção - retiraram. Manolito, como é tratado pelos colegas, agarrou a titularidade e apontou cinco dos sete golos que leva nesta época sob a égide do novo treinador, que tirou a equipa da zona de aflição, com 25 pontos em dez jogos - se a liga tivesse começado à 27.ª jornada, o Levante seria líder. "Este jogo foi um prémio para ele. Tem qualidade para voar mais alto", vaticinou Manuel Machado.

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