O grego que deu nome ao mais famoso chocolate belga

Foi um sobrinho de Kestekides, e desde há muito seu colaborador próximo, que assumiu o negócio depois da morte do fundador em 1948. E contam-se já quatro gerações a gerir a Leonidas.
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Quando nos chamamos Leonídio e visitamos o coração de Bruxelas, a zona em redor da Grand Place, é impossível não nos sobressaltarmos emocionalmente com a abundância de lojas Leonidas, um dos grandes nomes da chocolataria belga apesar de o nome ser o de um grego nascido em 1882, na Anatólia, então parte do Império Otomano: Leonidas Kestekides.

Antes de se instalar na Bélgica, Kestekides, que sempre viveu de fazer doces, tentou a sorte na Grécia, em Itália, nos Estados Unidos e em França. Foi por causa da Feira Mundial de Bruxelas de 1910 e da Feira Mundial de Gante que a Bélgica se tornou a sua casa até morrer, em 1948. Contou também muito para a sua belguização a paixão, e o casamento, com Jeanne Emelia Teerlink.

"Leonidas Kestekides foi o fundador da marca Leonidas, em Gante, corria o ano de 1913. Um século depois é um dos maiores produtores belgas, permanecendo como negócio familiar. Como Leonidas tinha ascendência grega e partilhava o primeiro nome com o rei de Esparta, morto na batalha das Termópilas, adotou o nome e a efígie do guerreiro para batizar o seu chocolate. O negócio familiar mudou-se para Bruxelas em 1934, com a ambição de tornar acessível o chocolate, até então considerado um produto de luxo e com elevados preços. Ficou na história dos chocolates belgas com o Manon, um praliné envolvido numa capa de chocolate branco e encimado por uma avelã", conta Fátima Moura, autora do livro Do Cacau ao Chocolate, ilustrado com fotografias de Mário Cerdeira.

Acrescenta a escritora, que também já publicou entre outros um livro sobre o café, que "as caixas de pralinés, os famosos chocolates belgas, são famosas e desejadas em todo o mundo. Foram criados no início do século XX, época em que os belgas transformaram o abundante cacau da sua colónia do Congo nestas caixinhas de chocolate oco com um recheio mole à base de ganache e muita manteiga de cacau. É esta que lhes empresta a textura de veludo que nos envolve toda a boca e faz as nossas delícias. Para guardá-los, como se fossem joias, a família Neuhaus inventou, em 1913, a primeira caixa de chocolates, o ballotin, de forma retangular, e embrulhou-a cuidadosamente com uma fita. E esta caixa de chocolates acabou por ser adotada pelos chocolatiers belgas e ainda hoje é a prenda mais querida no Natal ou no Dia dos Namorados".

Fátima Moura explica ainda que entre os fabricantes belgas de chocolate "contam-se as grandes casas Neuhaus, Godiva e Leonidas, todas nascidas no princípio do século XX, mas também umas centenas de chocolatiers artesanais. Os pralinés não são como a maioria dos chocolates que podem permanecer muito tempo nas prateleiras. Feitos com ingredientes frescos, têm vida curta e devem ser guardados no frio. Atualmente, os pralinés modernizaram-se. Desde há alguns anos que as grandes companhias, como a Leonidas, os deixaram de fazer à mão, tendo os ingredientes clássicos, como licores e frutos secos, sido complementados por sabores e aromas exóticos, vindos de outras partes do mundo, como wasabi, especiarias ou frutos tropicais."

Foi um sobrinho de Kestekides, e desde há muito seu colaborador próximo, que assumiu o negócio depois da morte do fundador em 1948. E contam-se já quatro gerações a gerir a Leonidas.

"Leonidas Kestekides merece o nosso elogio por ser um dos melhores expoentes do empreendedorismo da diáspora grega que traçou o seu próprio caminho de sucesso pelo mundo, mantendo sempre vínculos com a terra natal. O seu espírito inquieto e criador deixou a sua doce marca em mais de 50 países, sob o emblemático nome de um dos mais emblemáticos heróis da Grécia Antiga: Leónidas. Visitei Bruxelas pela primeira vez em 1980 e fiquei imediatamente impressionado pelas singulares lojas Leonidas, os seus sabores inigualáveis", testemunha Ioannis Metaxas, embaixador da Grécia em Portugal.

Recorda o diplomata, casado com uma portuguesa e fluente no português, que "voltei inúmeras vezes à Bélgica, principalmente por razões profissionais, para participar nos trabalhos dos órgãos europeus. Vivi e trabalhei em Bruxelas durante quatro anos, no período 1987-1991. Nessa altura, ainda não havia lojas Leonidas na Grécia. Portanto os melhores presentes que escolhíamos de regresso à Grécia para os nossos amigos eram os seus irresistíveis pralinés. É uma família que honrou o helenismo da Ásia Menor, honra a Grécia, honra a Bélgica e também honra a Europa."

Quem não estudou muito História e quiser conhecer o mito de Leonidas sempre pode ver o filme 300 enquanto degusta um bom chocolate belga.

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