No começo de um artigo da revista The New Yorker, sobre o novo Transformers: O Último Cavaleiro, escreve o aliciante crítico norte-americano Richard Brody que Michael Bay é "uma espécie de génio". Para tudo. Das duas, uma: ou se trata de uma chalaça, ou Brody preparou uma espirituosa argumentação para defender o quase indefensável. E, de facto, é mesmo a segunda hipótese. Esse artigo, na sua dança airosa com pé pesado sobre a longa e absurda narrativa do filme, faz-nos sobretudo perceber que, ao quinto momento da saga (com continuação garantida), era preciso refrescar de alguma forma a atmosfera crítica, encontrar imaginação para sacudir a monotonia negativa instalada em torno de Bay. Assume-se que Richard Brody tomou para si essa missão. Pronto..A má notícia é que... não, o realizador de todos os Transformers, na sua despedida da saga, não se converteu num génio. Permanece firme na disposição "autoral" para a confusão de objetos a voar no espaço condescendente do ecrã, na falta de destreza para contar uma história - no caso deste filme, ela é verdadeiramente complexa na sua mixórdia e incoerência - e no gosto lúdico pela violência (como a certa altura uma das gigantes sucatas deixa escapar: "adoro violência!"). Cabem neste filme tanta tralha quanto lendas arturianas, que cruzam o mago Merlin com os Transformers, uma rebuscada genealogia, um medalhão que está ligado a um qualquer fim do mundo, uma adolescente órfã que aparece do nada só porque sim, um velho conde (Anthony Hopkins, já por tudo) que delira com altas velocidade, etc. Nem as frouxas tentativas de humor nos dão ocasião para respirar..A boa notícia é que se pode sempre ler o texto de Brody na internet e ver o filme por esse filtro delicioso das suas palavras. Até em termos de sinopse complicada, cabe lá tudo.