O furacão Cave arrasou com o Primavera Sound
Galochas, impermeáveis, guarda-chuva ou simples sacos de plástico na cabeça, era esta a tendência que imperava no Parque da Cidade, no último dia do Nos Primavera Sound, onde a chuva finalmente resolveu aparecer, depois das ameaças não concretizadas de quinta e sexta-feira.
Esta uniformização quase total da audiência, em tudo contrastante com a habitual e colorida diversidade do público, será uma das imagens mais fortes do Nos Primavera Sound deste ano. Outra é a aposta, definitivamente ganha, num programa cada vez mais diversificado, no qual as sonoridades do hip hop e do R&B assumem um cada vez maior e merecido destaque - como se comprovou nas duas primeiras noites, com nomes como Tyler, the Creator, Vince Staples ou A$AP Rocky, responsáveis por algumas das mais animadas e concorridas atuações desta edição de 2018.
"A nossa preocupação é, em cada ano, trazer o que consideramos o melhor da música. E numa altura em que o hip hop está num dos momentos mais pujantes da sua história, tanto em termos artísticos como de popularidade, este cartaz acaba por ser o reflexo disso", afirmou ao DN o diretor do festival, José Barreiro.
E diversidade foi também a palavra de ordem do alinhamento do derradeiro dia de Primavera Sound iniciado ao som de Luís Severo, que desta vez surgiu em palco acompanhado de uma banda.
O horário vespertino e a chuva não jogaram a favor do cantautor português, nem de quem se lhe seguiu. Afinal, quem ia chegando, estava bem mais preocupado em abrigar-se da chuva e assim ir fazendo tempo, até à hora em que Nick Cave subisse finalmente ao palco Nos. Mas ainda faltavam algumas horas e pelos diversos palcos do festival iam-se sucedendo propostas que, pouco a pouco e apesar da chuva, lá iam conseguindo concentrar o público. Como aconteceu com o R&B da cantora americana Kelela ou o punk rock dos californianos Flat Worms, que actuaram no palco Seat, onde logo a seguir os britânicos Public Service Broadcasting também foram responsáveis por um dos maiores ajuntamentos da tarde.
À medida que a noite entrava, porém, todos caminhavam no mesmo sentido, em direção ao palco Nos, onde às dez em ponto apareceu Nick Cave. E com ele, pela primeira vez até então, a chuva abrandou. "Isto não pode ser coincidência" , comentava um fã, comovido, nas primeiras filas, enquanto o cantor australiano Interpretava Jesus Alone, um dos temas do último Skeleton Tree, o álbum escrito após a morte do seu filho Arthur, em 2015. Na infernal versão de from her to eternity, a chuva voltou com força e depois foi-se novamente, ao soarem os primeiros acordes de Red right hand. E assim continuou ao longo de todo o concerto, Ora diminuindo, acompanhando a doçura de Into My arms, ora aumentando, como no final épico de Jubilee Street, quando mais parecia que os céus acompanhavam, também eles, todo aquele turbilhão de emoções.