As águas do Douro vão torcendo as luzes citadinas em caprichos de correntes, é quase meia-noite e as gaivotas gritam de goelas viradas à lua. Nunca soube porque gritam as gaivotas..Passeio à beira-rio na Rua do Ouro e vou contando os vultos em silêncio, as sombras de homens sozinhos e mais escuros do que a noite. Os rostos incendeiam-se puxando o fogo do cigarrito, os olhos voltados para a frente, para a cana, para a linha, para o fundo incerto das águas..Não sei o que procuram ou do que fogem, se buscam o silêncio ou vão ali pregar aos peixes. Talvez rezem, talvez sonhem..Vem-me à memória o Domingo, do Manuel da Fonseca, na voz ainda viva do Mário Viegas:.... no entanto, conheço um homem que ia para a beira do rio e passava um dia inteirinho de domingo segurando uma cana donde caía um fio para a água... ... um dia pescou um peixe, e nunca mais lá voltou....Escritor