Não será todos os dias que o Batman entra no comboio da CP, em Lisboa, com destino a Cascais, e se cruza com Harley Quinn do Esquadrão Suicida ou com Hatsune Miku, a cantora virtual japonesa com um longo cabelo azul. Provavelmente, só acontece uma vez por ano. De 12 a 15 de setembro, este cenário ganha mais probabilidades, graças à sexta edição do Comic Con Portugal, o maior evento nacional dedicado à cultura pop, que decorre pela segunda vez consecutiva no Passeio Marítimo de Algés..Depois de quatro edições a norte, na Exponor, em Matosinhos, o festival fixou-se na capital no ano passado, com 100 000m2 à disposição, onde cabem dezenas de palcos, pavilhões, camarins para atores e estrelas da literatura e da BD de ficção científica ou fantasia, expositores, stands para marcas de gaming e concursos para cosplayers (ler artigo na página 12) , os fãs deste universo que vestem e imitam as suas personagens preferidas..Há quem diga que este é um evento para geeks, mas Paulo Rocha Cardoso - que não receia o rótulo - assegura que é para todos. "Nós crescemos com heróis e com estas personagens, seja uma Barbie, um Indiana Jones ou um Homem-Aranha. Eu sou um aficionado. Sou um geek, como se costuma dizer, e cresci com banda desenhada, queria ser um super-herói e tudo", começa por contar o fundador da edição portuguesa do Comic Con. "No evento, qualquer um pode ser quem quiser, o nosso mote é esse mesmo: be whatever you want to be.".Foi em 2014 que Paulo Rocha Cardoso conseguiu trazer para Portugal a convenção internacional que admirava, uma conquista que descreve como o "cumprir de um sonho de muitas pessoas, que lutaram durante anos para que o Comic Con Portugal acontecesse". Mais precisamente 44 anos, já que o evento original nasceu em 1970, na cidade californiana de San Diego, Estados Unidos..Porquê a demora em chegar a Portugal? O responsável pela edição portuguesa afirma que "não existia ainda mercado para satisfazer a indústria pop". "Durante muito tempo, os super-heróis eram vistos como secundários. Existiam legiões de fãs, mas foi apenas quando a indústria cinematográfica lhes deu voz e os transformou em personagens de blockbusters que se passou a olhar para estes heróis de outra forma", afirma Paulo, uma semana antes do arranque da sexta edição do Comic Con português. "Hoje, quando vemos um símbolo do Batman ou do Super-Homem, não precisamos de legenda, sabemos imediatamente quem são. Era uma questão de timing até chegar a Portugal", vinca..Apesar de a palavra Comic ser referida constantemente, este nunca foi um evento exclusivamente dedicado à banda desenhada. Nos anos 1970, quando um grupo de geeks se juntou para organizar o primeiro San Diego Comic Con, na cave de um hotel, o formato já valorizava outras plataformas, como o cinema, a TV e a indústria dos videojogos..Não demorou muito até que grandes marcas como a Playstation, a X-Box, a Microsoft, a Lego e até a Disney percebessem que esta convenção podia ser um canal de promoção e se juntassem à icónica convenção, que tem hoje dois grandes eventos nos EUA, em San Diego e em Nova Iorque. "Faz sentido porque a indústria lá é muito, muito grande", conta ainda Paulo Rocha Cardoso. Pelo mundo, muitos países, incluindo Índia, Japão, Polónia, Rússia, Reino Unido e Austrália, têm também os seus próprios Comic Cons..Totalmente independente da marca-mãe, a convenção portuguesa constrói a sua própria programação a cada ano, consoante as tendências da indústria. "A Comic Con Portugal é que define com a indústria nacional o que faz sentido acontecer no evento. Se uma série não passa por cá, não faz sentido promovermos esse conteúdo porque não incentivamos o download ilegal de séries", explica o fundador. "O objetivo é que a indústria promova junto dos fãs o conteúdo que está a passar e que pode vir a ser tendência do futuro.".Um ano de preparação para quatro dias de evento.No Passeio Marítimo de Algés, o recinto está a ser montado desde há dois meses para receber a 12 de setembro os primeiros visitantes da nova edição. Tem sido assim desde o ano passado, quando o Comic Con Portugal trocou a Exponor de Matosinhos pelos cem mil metros quadrados da nova localização, ultrapassando também a marca dos 108 mil visitantes, vindos de todo o país e com todas as idades, embora o público-alvo continue a ser os jovens. "Desde a edição passada, quando chegámos a Oeiras, que começámos logo a planear os três Comic Cons seguintes. A maior dificuldade está sempre na confirmação dos talentos", desabafa Paulo..Os auditórios têm também vindo a aumentar e neste ano esperam-se, pelo menos, cinco grandes anfiteatros no passeio marítimo, incluindo o Golden Theatre, com 2000 mil lugares, que será a "maior sala de cinema do país". O evento estará dividido por três grandes áreas (programa, experiência e zona comercial), com dez subtemas, como o cinema, a TV e o anime (animação japonesa), BD e manga (banda desenhada do Japão), videojogos, novos media, cosplay, música e até comédia, que neste ano se destaca com o primeiro live stand-up da história do evento português. Guilherme Geirinhas, Diogo Batáguas e Guilherme Fonseca estarão em palco, além de Salvador Martinha, que irá escolher um novo talento para se estrear ao vivo..Há mais figuras nacionais em destaque, não fosse este um evento made in Portugal. Joaquim de Almeida vai falar sobre a sua carreira e a participação em Warrior Nun, a próxima aposta da Netflix para 2020; e no mesmo dia, 15 de setembro, sobe ao palco o ator Sérgio Praia com a banda do aclamado filme Variações, que está em exibição nos cinemas..O dia mais aguardado é precisamente o último do festival, com a atriz de 15 anos Millie Bobby Brown (conhecida pelo seu papel na série Stranger Things) a participar num painel de perguntas e respostas, seguindo-se uma sessão de autógrafos, cujo acesso deverá ser comprado no recinto..As mais recentes confirmações de TV também prometem causar alvoroço: as atrizes Itziar Ituño e Esther Acebo, que interpretam Raquel Murrilo (Lisboa) e Mónica Gaztambide (Estocolmo) na série A Casa de Papel, vão estar no passeio marítimo a 12 e 13 de setembro. Alexander Ludwig (Vikings e Jogos da Fome), Benedict Wong (Vingadores: Endgame) e a atriz Tricia Helfer (Lúcifer e Battlestar Galactica) são outros nomes internacionais da TV e cinema que estão confirmados para esta edição do festival..Já no universo da BD e da literatura, o cartaz conta com o guionista Ed Brubaker, conhecido pelos seus trabalhos de Batman e Capitão América, e ainda Ivan Reis, um dos mais importantes artistas de banda desenhada do mundo e da DC Comics. Também Kass Morgan, autora dos livros The 100, que deram origem à série de televisão com o mesmo nome, estará numa das palestras..Os convites às estrelas e os autógrafos pagos.Já passaram seis anos desde o início do Comic Con Portugal, mas quem tem acompanhado o percurso do evento poderá recordar algumas das estrelas com maior impacto que passaram pelo festival. A atriz Cobie Smulders, conhecida por vestir a pele Robin na série Foi assim Que Aconteceu, Natalie Dormer, de A Guerra dos Tronos, Morena Baccarin, de Gotham e Deadpool, Dominic Purcell, de Prison Break, Nicolas Hoult (X-Men) ou o criador de A Turma da Mônica, Maurício de Sousa, são apenas algumas das figuras internacionais convidadas pela edição portuguesa..Segundo Paulo Rocha Cardoso, a confirmação destes talentos é o processo mais complexo do festival. Basta uma promoção de um trabalho, a obrigatoriedade de gravar mais um episódio ou de uma presença, do outro lado do mundo, para impedir que alguns destes artistas consigam viajar até Portugal, na data certa. "Para além disso, temos de perceber o que faz sentido para a indústria nacional e as novidades de San Diego, quais os lançamentos do ano e estreias, pelo que só uns meses antes do evento é que podemos contactar os talentos", refere..E inicia-se outra parte desafiante do processo: contactar os artistas em questão. O convite é feito diretamente pela Comic Con aos agentes das estrelas ou, em alguns casos, através dos seus parceiros, já com uma proposta de um tema para falar no evento. "É um processo que pode ser demorado, mas cujos resultados são visíveis em todas as edições da Comic Con Portugal", vinca o organizador. Escusando-se a referir valores, Paulo garante que o trabalho é fruto de muitas horas de sacrifícios. "As pessoas por vezes veem números da indústria do cinema e ficam admiradas e pensam como é que é possível alguém receber esses valores por episódio, mas é assim que a indústria funciona e temos de nos adaptar.".Os autógrafos de celebridades pagos são uma das práticas destas convenções que têm também suscitado curiosidade. Paulo Rocha Cardoso afirma que é algo comum no mercado internacional, com atores de TV ou autores de BD a cobrarem por cada autógrafo que dão aos fãs. "Alguns cobram 150, 200 dólares por foto ou por dar a assinatura. Em Portugal, tentamos explicar que esses valores são impraticáveis, mas fica sempre sujeito ao critério do agente e da equipa da figura em questão. É algo que não depende da organização", diz. No caso de Millie Bobby Brown, a equipa da atriz optou por cobrar um valor por cada autógrafo, que ainda não foi divulgado (e cujo bilhete só poderá ser adquirido no recinto). Com mais ou menos autógrafos pagos, a protagonista de Stranger Things será, certamente, a grande estrela do último dia..Casting de voz para Frozen no recinto Pelo segundo ano consecutivo, a Disney escolhe o recinto do Comic Con para encontrar a voz do seu próximo filme. No ano passado, a companhia abriu um casting de voz para o filme Força Ralph: Ralph vs. Internet, no entanto neste ano a fasquia aumenta com... Frozen. Qualquer um pode tentar a sua sorte neste casting de dobragem, de onde sairá uma das vozes do filme infantil. Quem sabe, até um papel principal..BILHETESDiário: 20 euros; ou 25, a partir de dia 12Passe fim de semana: 50 euros; ou 60, a partir de dia 12Passe geral: 75; ou 85 euros, a partir de dia 12