Quem foi László Magyar e como é que, no século XIX, um explorador húngaro surge no interior de Angola? .Foi um grande explorador do Sudoeste Africano, de Angola. Ele nasceu em 1818 e estava na Marinha argentina quando chegou ao Congo. Daqui foi para Angola, onde passou mais de 16 anos... de 1848 a 1864, quando morreu. A sua motivação foi visitar e descobrir áreas desconhecidas do continente negro..A Hungria teve muitos exploradores?.A Hungria nunca teve colónias, não existia interesse económico ou político por parte do império dos Habsburgos na atividade dos seus exploradores. Mas muitos húngaros foram para diferentes partes do mundo com objetivos científicos, por curiosidade e não por interesse do Estado. Eram os próprios a custear as suas viagens... László Magyar foi marinheiro, completou os estudos na Academia de Marinha e teve muitas experiências em diferentes partes do mundo: Madagáscar, Indonésia, sul de África, Argentina, Brasil e Uruguai. A curiosidade pessoal foi a sua motivação..Magyar era cientista?.Era um explorador. Não completou estudos universitários mas era fluente em húngaro, alemão, latim, português e inglês. Era uma personalidade excecional e acreditava em vir a conhecer mais e mais terras desconhecidas de África..Mas mantinha-se em contacto com a Hungria?.Sim, e enviou os seus manuscritos para a Hungria, nos anos 1855 e 1857. O [então] presidente da Sociedade de Geografia húngara reconheceu que os documentos incluíam muitos factos valiosos sobre a vida em África, as pessoas, as paisagens e os rios africanos. Por isso publicou os seus manuscritos, cartas e diários em húngaro e alemão, e isso tornou-se parte da ciência universal..Qual foi o contributo desse explorador para o conhecimento de Angola?.Primeiro, a criação de mapas originais sobre os rios... Eram mapas hidrológicos, mas hidrográficos e geográficos, que incluíam muitos dados sobre os povoados africanos, as montanhas e os rios. László Magyar viajou até às nascentes dos rios Congo e Zambeze, fez seis expedições a diferentes partes de Angola, teve contactos com Ina Kulu Ozoro, com quem se casou, e o seu sogro foi Kayaya Kayangula, rei do Bié. A descrição que fez do Bié, cientificamente, incluiu muitos factos geográficos, etnográficos e sociais. Cientificamente podemos dizer que teve muitas oportunidades de contactar com as comunidades locais em diferentes partes do Bié e de Angola..O que é que distingue László Magyar dos outros exploradores húngaros?.Ele passou 16 anos em Angola. A Hungria enviou cientistas para Madagáscar, para o leste de África, mas László Magyar foi o primeiro e único a passar 16 anos no mesmo país, no mesmo local. Isso foi uma grande vantagem. Ele publicou as suas observações e descrições, que incluíam muitos factos botânicos, geográficos e geomorfológicos. Descreveu esses locais, as minas, os minerais, os recursos naturais..Se ele falava português, porque é que a sua obra só foi publicada em húngaro e alemão?.Porque ele acreditava que pertencia à Hungria. Ele era membro honorário da Academia de Ciências da Hungria e acreditava que, se enviasse os manuscritos para lá, eles pertenciam aos húngaros. Penso que os portugueses lhe prestaram mais atenção por causa de exploradores como Serpa Pinto, Silva Porto e outros..Magyar conheceu Silva Porto, que nessa época também estava no Bié?.Não tenho qualquer evidência de que eles tivessem um contacto pessoal direto, mas acredito que sabiam da existência um do outro..As informações recolhidas por László Magyar foram utilizadas pelos portugueses?.Sim, e não só. László enviou algumas cartas para Paris, onde um padre beneditino húngaro as traduziu para inglês e depois enviou-as para Londres, para a Sociedade Real de Geografia..Mas como é que os portugueses souberam disso?.Pelas publicações inglesas e alemãs. Os cientistas portugueses usaram os mapas que ele fez, como o que encontrei aqui na biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, uma cópia, há uma hora. A informação que ele recolheu foi muito útil para os portugueses..Os seus trabalhos foram criticados pelos erros que tinham....É verdade. Mas ele estava sozinho, não tinha grandes caravanas nem informação como possuíam os ingleses. Havia muitos erros nos manuscritos, mas isso não é razão para ignorar a sua obra. É natural... eu publiquei 27 livros, mais de cinco mil páginas, e havia talvez um ou dois ou três erros....Quantas páginas escreveu ele?.Aproximadamente duas mil. Ora, o que significam uns 20 erros em duas mil páginas? Magyar estava em África, sem controlo dos dados... Ele não tinha fontes de informação..László Magyar era uma figura esquecida da história da Hungria?.Nunca esquecemos o seu nome e o seu trabalho. Na Hungria há vários locais e pessoas que o conhecem e têm orgulho nele. Mas precisamos de fazer mais, talvez um filme sobre a sua vida em Angola..E como é que o professor János Kubassek o descobriu?.Como diretor do Museu Húngaro de Geografia, encontrei-me com Judith Listowel, uma húngara que passou vários anos em África a fazer alguma investigação. Sobre László Magyare tinha publicado um livro intitulado O Outro Livingstone [referência ao explorador inglês David Livingstone], que ela me deu, e esta foi a minha motivação pessoal para fazer investigação sobre ele.