O estado da desgovernação

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Esta governação não foi para as pessoas. O acesso aos cuidados de saúde, fundamentais em pleno século XXI, não está assegurado. As Urgências fecham rotativamente, as pessoas desesperam por saber a que porta bater. A confiança no Serviço Nacional de Saúde foi comprometida por um Governo que dizia ser o maior amigo do SNS. Com amigos destes...

Esta governação não foi para as mulheres. O acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez, direito fundamental assegurado em referendo nacional que acabou com a perseguição a mulheres e a exposição da sua vida em tribunal, está em causa. O Governo do PS deixou alastrar pelo país o cenário de serviços de saúde que não respondem a este direito. E a segurança das mulheres na gravidez também foi ameaçada, deixando de ter centros de referência para contacto, profissionais de proximidade ou serviços disponíveis. No momento em que a extrema-direita ameaça os direitos conquistados, lembremo-nos de quem não defendeu esses direitos quando o deveria fazer, quem não cuidou das conquistas e do progresso que o país alcançou no respeito pelos direitos das mulheres.

Esta governação não foi para políticas de esquerda. Ao contrário do que diz a direita, que o problema do SNS é não recorrer suficientemente aos cuidados de saúde privados, a realidade é muito diferente: uma parte crescente do Orçamento da área da Saúde serve para pagar aos privados. E, no entanto, os problemas são cada vez maiores: a fragilização do SNS coloca em causa o acesso aos cuidados de saúde. O negócio privado bate palmas a Pizarro, ou aos herdeiros de António Costa, tem ganho imenso com as suas políticas.

Esta governação não foi para os profissionais e trabalhadores. O Governo PS fez do ataque aos profissionais da Administração Pública o paradigma da sua política. Com ou sem maioria absoluta, o Partido Socialista não hesitou em levantar o país contra os supostos privilégios dos professores, bloqueou todas as negociações, e quando precisou de uma maioria no Parlamento contra os professores ela lá estava, assegurada pelos deputados do PSD ou pelos do PS. Enquanto instalava o caos na escola pública, acusava os professores de abrirem a porta à Educação privada. Na Justiça, colocou em tribunal os oficiais de justiça quando iniciaram a sua greve para exigir o que a própria ministra dizia ser uma reivindicação mais do que justa. A mesma escolha política aconteceu na Saúde: enquanto ataca o SNS, atira as culpas para os seus profissionais; enquanto instala o caos no SNS, atira as culpas para os profissionais que fazem centenas de horas extraordinárias para garantir o funcionamento normal dos serviços.

Esta governação não foi para jovens. A falta de salários decentes que valorizem as competências dos jovens, o Governo permitiu que o mercado da habitação se transformasse numa selva em que a especulação é rainha. Não toca nos interesses dos fundos imobiliários, permitiu regimes fiscais obscenos a residentes não habituais ou nómadas digitais, enquanto as novas gerações, a classe média e as classes mais desfavorecidas não conseguem ter habitação a preços que consigam pagar.

É no confronto com estas heranças que a alternativa que o Bloco de Esquerda propõe se constrói. Esta herança não é só do PS, é a execução de políticas que os partidos de direita subscrevem, na Saúde, na Educação ou na habitação. O nosso país pode ser muito mais do que isto, no dia 10 de março podemos dar juntos um passo para esse progresso.

Presidente da bancada parlamentar do BE

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