O escuteiro, a velhinha e o vizinho dela

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Tem-se olhado para os problemas do endividamento na Península Ibérica como estando a Espanha a um passo de ser contaminada pelo possível incumprimento lusitano. Daí que, em Berlim e Paris, se tenha desenvolvido a teoria do muro de contenção preventivo: para preservar o parceiro maior (a Espanha vale cerca de 12% do euro), o que faria sentido era intervir em Portugal quanto antes. Dá-se é a arreliadora circunstância de o Governo de Lisboa se declarar na típica situação daquela velhinha, que não queria o que um solícito escuteiro insistia em fazer: ajudá-la a atravessar a rua.

As notícias que nos chegam de Madrid, pelo contrário, são de molde a captar a atenção geral. O reforço anunciado do fundo interno de recapitalização das Caixas de Aforro foi liminarmente considerado insuficiente por solícitos analistas em comentários divulgados globalmente. A duração de seis meses, dada ao processo de consolidação financeira dessa enfraquecida constelação de entidades bancárias, é igualmente considerada demasiado extensa, tendo em conta que no próximo mês de Maio haverá nova ronda de testes de esforço para a banca europeia, desta feita com critérios bem mais apertados do que a de 2010.

Com uma taxa de desemprego, em fins de 2010, no seu máximo de 20,3%, com a economia ainda sem dar sinais de sair do buraco no qual o afundamento do imobiliário a lançou, a Espanha exibe pretextos próprios que levantam dúvidas aos credores. Mas também consegue reagir na adversidade: o grande acordo social de reforma do regime das pensões, alcançado na madrugada passada entre todos os parceiros sociais, é sinal de que em casa dos nossos vizinhos ninguém quer ficar de braços cruzados nesta tempestade financeira e económica.

Obama muda para 2012

Com menos de dois anos para preparar a reeleição, Barack Obama já começou a fazer mudanças na equipa. Com um novo chefe de gabinete e um novo porta-voz, o Presidente dos Estados Unidos espera arranjar novo fôlego para lidar com uma Câmara dos Representantes em que o seu partido democrata perdeu a maioria nas eleições intercalares de Novembro. E, se os nomes de William Daley ou Jay Carney podem não ser dos mais sonantes, ambos foram recrutados por Obama para dar voz à nova dinâmica da Casa Branca.

Decidido a proteger as reformas da saúde e de Wall Street, o Presidente americano precisa de sangue novo para enfrentar um Congresso em que os republicanos - animados pelos radicais do Tea Party - estão decididos a travar o financiamento destes projectos. E, num momento em que a redução do défice é uma prioridade dos Estados Unidos, Obama não hesita em recorrer a antigo elemento da Administração Bill Clinton. É que, se o último democrata a ocupar a Casa Branca também lidou com um Congresso hostil no segundo mandato, a situação económica do país era bem melhor e tudo parecia "conspirar para um orçamento equilibrado", como se lia nos media americanos.

Até agora as mudanças têm-se limitado ao pessoal mais próximo do Presidente, mas nas próximas semanas é quase inevitável que cheguem ao topo da Administração, onde se esperam algumas saídas e trocas de pasta. Uma das maiores incógnitas é se Hillary Clinton irá manter-se no Departamento de Estado ou se irá tornar-se na primeira secretária da Defesa da história dos EUA, após a saída anunciada de Robert Gates.

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