O erro histórico do PCP

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Em artigo neste jornal, antes do congresso do PCP, manifestei-me a favor de mudança na liderança do partido. E fi-lo não por ser anticomunista, coisa que nunca fui, mas antes por nutrir grande simpatia pelo PCP, cujo passado de luta antifascista me merece o maior respeito.

Não sendo comunista, acho, porém, que o PCP tem papel insubstituível na defesa dos trabalhadores e seus direitos, pelo que é fundamental na nossa democracia.

Quando advoguei a mudança de liderança - sem qualquer desprimor para Jerónimo de Sousa, com quem mantenho, aliás, boa relação, tendo-o entrevistado múltiplas vezes - o PCP estava apenas com seis por cento nas sondagens, razão pela qual considerei essencial o rejuvenecismento do partido, com outro líder.

A última sondagem, de que tenho conhecimento, dá 4,8 por cento aos comunistas, resultado semelhante ao de João Ferreira nas presidenciais, e atesta bem o enfraquecimento eleitoral progressivo do PCP, que, a meu ver deveria ser estancado.

Com 100 anos de vida, um PCP fraco, muito aquém dos saudosos 20 por cento da APU (Aliança Povo Unido) em Lisboa, só serve ao grande capital, que fica ainda mais explorador. Os portugueses, esses, ficam claramente a perder com o declínio dos comunistas. Deixam de ter quem os defenda com mais firmeza das investidas do patronato e do poder político reaccionário.

Sei bem que o PCP conta sempre, como Jerónimo de Sousa costuma dizer, e que, actualmente é partido-chave no nosso processo democrático, viabilizando o Orçamento. Mas se fosse mais forte, tenho, por certo, que as condições de vida dos trabalhadores portugueses seriam bem melhores e que Portugal ficaria mais igual, mais justo e mais fraterno.

Como potenciais novos líderes apontei três nomes - Bernardino Soares, João Ferreira e João Oliveira. Qualquer deles poderá evitar o erro histórico, quanto a mim, da recondução de Jerónimo de Sousa na liderança.

O actual líder diz que está ainda para as curvas, apesar dos seus 73 anos, mas, infelizmente, para todos os democratas e progressistas, as curvas têm sido todas a descer. Que são, aliás, as mais perigosas.

Escreve segundo a norma anterior ao Acordo Ortográfico

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