O El Gordo das legislativas
Quando no dia 7 foi fazer campanha em Estepona, Málaga, o primeiro-ministro Mariano Rajoy recebeu das mãos dos dirigentes locais um décimo da Lotaria de Natal com o número do código postal do município, ou seja, 29 680. O líder do Partido Popular iniciaria aí uma digressão de três dias por localidades andaluzas, que o levaria também a Huelva, Málaga, Cádis e Sevilha. Isto depois de no final de novembro já ter estado em Tomares, município da província de Sevilha, onde o presidente da câmara, José Luis Sanz Ruiz, é do PP. É que Rajoy, tal como os cabeças de lista do PSOE, do Ciudadanos e do Podemos, sabe que a Andaluzia, a comunidade autonómica espanhola com mais habitantes - oito milhões -, é uma espécie de El Gordo, primeiro prémio da Lotaria de Natal, destas legislativas. É na Andaluzia que se elegem mais deputados para o Parlamento: 61 em 350. A Catalunha e a Comunidade de Madrid são como o segundo e terceiro prémios da famosa Lotaria, elegendo, respetivamente, 47 e 36 deputados.
Como o resto dos mortais que apostaram estão pendentes daquilo que lhes sair no sorteio do dia 22, Rajoy, Pedro Sánchez, Albert Rivera e Pablo Iglesias estão pendentes do que acontecer nesta região do Sul de Espanha. O último barómetro mensal do Centro de Investigaciones Sociológicas, de novembro, revelou que a Andaluzia e a Extremadura serão, das sete comunidades atualmente nas mãos dos socialistas, as únicas duas que o PSOE conseguirá manter. Segundo o barómetro, os socialistas andaluzes conseguiriam eleger entre 21 e 25 deputados para o Parlamento espanhol, o PP da Andaluzia entre 19 e 21, o Ciudadanos entre 11 e 14, o Podemos cinco e a Esquerda Unida um.
Na Andaluzia a liderança da junta continua nas mãos do PSOE, mais propriamente de Susana Diaz, graças a um acordo que esta fez com o Ciudadanos. 81 dias após a realização das eleições autonómicas antecipadas na Andaluzia, ganhas pelos socialistas mas sem maioria, Diaz foi investida em junho. Não sem antes ter sido rejeitada. Por três vezes. Mas se na Andaluzia o Ciudadanos viabilizou Diaz, na Comunidade de Madrid apoiou Cristina Cifuentes, do PP. Algo que torna difícil leituras a nível nacional sobre uma futura coligação pós-dia 20. Rivera tem resistido até agora a dizer a quem se aliaria se nem PP nem PSOE tiverem maioria absoluta. Alguns acordos, pactos ou simples entendimentos a nível regional e local em Espanha são difíceis de extravasar para o nível nacional. Veja-se o exemplo de Málaga e Sevilha, onde estive em reportagem. Na primeira, o presidente da câmara, Francisco de la Torre Prados, é do PP. Na segunda, o líder da autarquia, Juan Espadas, é do PSOE. Apesar disso, decidiram unir-se, sendo a reunião que tiveram em julho a primeira do género em 15 anos. O objetivo é ultrapassar rivalidades antigas e estéreis, criando um eixo de promoção Sevilha-Málaga ou Málaga-Sevilha, em que ambos ganhem. Nesse dia, alguns media titularam: "Sevilha e Málaga descobrem-se como parceiros após anos de afastamento.
Esteve em reportagem na Andaluzia