O dono do Pingo Doce sobre o Estado, a crise e a Europa
Recuperámos duas entrevistas a Alexandre Soares dos Santos no Diário de Notícias e no Jornal de Negócios. A crise, o Estado e a Europa são os principais temas. O Dinheiro Vivo recorda ambas e deixa-lhe os pontos-chave:
"Não, nós somos vítimas de nós próprios. Este é um problema muito português. A culpa é sempre do parceiro do lado, nunca é nossa. No nosso caso, a culpa é só nossa."
"O caso do BPN, todo o mundo sabia o que estava a acontecer. (...) O problema é que existe uma promiscuidade entre o Estado, a banca e outras instituições que prejudica todo o mundo".
"Aquilo que considero o maior erro é o Parlamento não desempenhar as funções que devia, de controlar o Governo. A Assembleia da República é controlada pelo Governo - isto é contra o princípio da democracia".
"Não entendo como é que é preciso tanto rigor para uma dívida tão baixa, à escala europeia, como é a de Portugal. Porque é que nós temos de reduzir em 3 ou 4 anos e sacrificar tanta gente? Podemos esperar mais tempo."
Sobre a fome da qual se faz "muita propaganda" em Portugal: "O problema é grave, mas não é tão grave."
"Não entendo muito disso porque não pagamos salário mínimo nenhum. Nós pagamos muitíssimo bem. Um operário na Lever ganha dois mil euros por mês, fora os prémios! O salário médio do Jerónimo Martins mais baixo é de 780 euros. Depois tem mais uns prémios aqui e ali e acolá."
"Agora dou sempre o mesmo exemplo: de repente aumentaram as exportações de Portugal, e porque é que foi de repente? (...) Por necessidade, porque deram corda aos sapatos e foram exportar. Até lá estávamos confortáveis!"
"Gostamos muito de falar mal do nosso ensino secundário, das nossas universidades - é treta! As nossas universidades são boas e o nosso ensino secundário é bom."
"Sim. Os professores é que têm de ser avaliados. Não consigo compreender como é que um professor não quer ser avaliado. Nesta companhia [Jerónimo Martins] todo o mundo é avaliado. Até eu, que sou o presidente."
"A Fundação Francisco Manuel dos Santos fez um estudo (...) e chegou-se à conclusão de que se podia poupar 800 milhões de euros, que é justamente quanto o ministro da Saúde diz que precisa de poupar. Esses 800 milhões de euros estão dentro dos hospitais. (...) É só desperdício."
Sobre a falta de debate político em Portugal. "Não vamos a lado nenhum com eleições. Porque o nosso problema é dinheiro. Somos tesos e estamos falidos".
"Creio que nunca foi feito um referendo sobre a Europa, com medo que o português tivesse dito "não".
" "Politicamente, estou mais pessimista em relação à Europa do que estou em relação a Portugal."
"O que é absolutamente necessário é percebermos que a UE só tem condições de sobreviver se marchar em direção ao federalismo."