O dia em que terminou o 'fim da história'

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Lembram-se o que dizia George W. Bush sobre a política externa norte-americana durante a campanha eleitoral de 2000? Entre outras propostas, a sua agenda assentava na retracção da acção militar no exterior, usada apenas como último recurso, recusando assim o intervencionismo humanitário de Bill Clinton. Quer em campanha, quer nos primeiros meses da presidência, a narrativa era bem mais herdeira da tradição realista republicana do que da tese da "nação indispensável" dos New Democrats.

A 11 de Setembro de 2001, esta postura alterou-se profundamente e a sua política externa recuperou uma agenda (sugiro John Lewis Gaddis, Surprise, Security and the American Experience) que não ganhou as eleições de 2000. Neste sentido, os ataques ao poder militar (Pentágono) e económico (Torres Gémeas) dos EUA acabaram por mudar o comportamento da superpotência e, com isso, a última década. Mais do que a emergência da Al-Qaeda (que já tinha actuado antes) e do debate securitarismo/liberdades (bem mais presente nos EUA do que na Europa), o maior alcance do 11 de Setembro dá-se no profundo impacto que teve na política externa norte-americana. A "guerra global ao terror" cegou Washington a partir daí. Quatro biliões de dólares depois, duas guerras simultâneas sem planos pós-intervenção sustentados, e uma crise financeira em cima, ficam demonstrados três pontos: os limites do poder militar contra o terrorismo jihadista; as fragilidades da maior superpotência da história agindo sozinha; o aproveitamento que as potências emergentes tiraram dos custos políticos e económicos norte-americanos para se imporem. O mundo já era um lugar perigoso a 10 de Setembro de 2001. Mas a 11, os EUA atiraram o triunfalismo pós-89 definitivamente para a história.

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