O deputado cantor romântico. Luís Gomes quer dar música na Assembleia da República

Além de deputado, o social-democrata Luís Gomes é professor universitário, consultor e cantor romântico. Autarca durante 12 anos no Algarve, regressa agora à AR, onde pretende fiscalizar a maioria absoluta do PS.
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É engenheiro de formação, frequenta o doutoramento em Gestão e, pelo meio, ainda consegue ser professor na Universidade do Algarve e em janeiro foi eleito deputado pelo PSD à Assembleia da República pela segunda vez, depois de ter sido autarca durante 12 anos. Por trás deste percurso profissional há uma área que une a vida de Luís Gomes: a música.

"Desde os sete anos que sei música", começa por contar Luís Gomes. Ao DN, explica que aprendeu solfejo e o pai tocava requinta, "uma espécie de clarinete um bocadinho mais agudo". Isso fez com que desde "os quatro ou cinco anos" acompanhasse o seu pai. "Este desejo pela harmonia foi uma coisa que me chamou à atenção desde muito cedo", explica. E não se ficou só pela curiosidade. Neste percurso, aprendeu "órgão, depois clarinete e, mais tarde, na igreja, acabei por aprender guitarra e a cantar".

Por isso, a música acabou por estar presente na sua vida muito antes ainda de seguir para a política, algo que diz ter sido uma "situação um pouco inesperada". Apesar da eventual surpresa, a carreira política de Luís Gomes tem sido bem-sucedida: depois de ter sido deputado na altura do governo liderado por Durão Barroso (em funções de 2002 a 2005), foi depois autarca em Vila Real de Santo António (onde ainda é vereador), tendo vencido com maiorias as três eleições a que se candidatou. "Sempre procurei enquadrar na política soluções relacionadas com aquela que é a minha área de estudos, a engenharia do ordenamento do território. Portanto, sempre fui muito interessado em tentar encontrar soluções", explica.

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Depois de se ter licenciado no Instituto Superior Técnico, em Lisboa, Luís Gomes voltou ao Algarve para lecionar na universidade. Ao mesmo tempo, trabalhava com João Guerreiro, o antigo coordenador do Centro Regional para a Inovação do Algarve. Essa experiência permitiu-lhe fundar, com outros autarcas da região, a associação Odiana, focada no desenvolvimento local do Baixo Guadiana. É nessa altura que conhece o então deputado Carlos Martins, na época presidente da distrital do PSD no Algarve. "Foi nessa altura que me convidaram para entrar na lista de deputados, até através de Durão Barroso, eu aceitei e foi assim que entrei na política", resume o deputado social-democrata.

Desde que está ligado à política (seja ela nacional ou local), Luís Gomes nunca escondeu a sua ligação à música. E acredita que esse deve ser o caminho a seguir pelos representantes políticos. "Não acredito em política feita à base do marketing. Os políticos devem mostrar ser aquilo que são", defende. Até porque o deputado, eleito como cabeça-de-lista pelo Algarve, não é o único músico na Assembleia. Do outro lado da barricada, na bancada do PS, encontra-se a cantora lírica Elisabete Matos. A música, diz Luís Gomes, "é complementar" à vida política e até pode ajudar na vida parlamentar.

"Acho que há um preconceito", considera Luís Gomes. "Talvez se eu fosse poeta ou cantor de ópera a surpresa fosse menor. Mas como sou cantor de reggaeton e de pop... Eu compreendo, é um preconceito. Mas eu vivo bem com isso", diz.

Depois de ter sido deputado durante os governos de Durão Barroso e Santana Lopes, é a primeira vez que Luís Gomes se vai sentar do lado da oposição - e logo com um Governo de maioria absoluta.

Para o deputado, a tarefa é tida como "desafiante". Até porque, explica, "quando há uma maioria, o Governo é que impõe a agenda parlamentar ao partido e não o contrário". Por isso entende que "a diferença deve ser feita por cada um de nós nas respetivas áreas de trabalho parlamentar". No seu caso, Luís Gomes será coordenador da comissão partidária de Cultura e Comunicação e, nesse campo, "este Governo tem votado a cultura a medidas muito fracas, a um orçamento visivelmente insuficiente", defende.

Tendo em conta a maioria absoluta, fazer oposição ao PS "não será fácil, será sobretudo uma função de fiscalização, que será constante durante toda a legislatura", considera.

Aos 48 anos, o deputado tem dividido o seu tempo entre a política, a academia e a música, mas isso não o impediu de já ter lançado dois discos e de até ter tido uma música incluída na banda sonora da telenovela Ouro Verde. Mas a tarefa de chegar a um público mais alargado através da rádio não tem sido fácil.

"As rádios portuguesas ainda são muito elitistas", considera Luís Gomes. Na opinião do deputado, "há artistas com muito talento que não conseguem ter uma música na rádio durante a carreira toda", tudo "porque são portugueses", acusa. Segundo o deputado social-democrata, "há músicas estrangeiras que passam várias vezes por dia nas rádios e podia perfeitamente passar a música de um artista português", remata.

rui.godinho@dn.pt

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