O debate regressa ao café "A Brasileira". Como será Lisboa no pós-pandemia?
"A Brasileira", histórico café do Chiado fundado em 1905, vai retomar já a partir de quinta-feira, às 18.00 horas, as tertúlias culturais que a tornaram célebre durante o século XX, período durante o qual foi ainda um local de debate e de dinamização do pensamento. Ali passaram vários nomes destacados da cultura portuguesa, entre os quais Fernando Pessoa, escritor que ali está imortalizado na famosa estátua da Rua Garrett.
Este regresso ao passado cultural fica assinalado pelo início de um conjunto de cinco debates intitulados "Lisboa de Volta", que vai procurar abordar o futuro da cidade depois da pandemia de covid-19 que alterou a forma de viver da humanidade. Um conjunto de debates que, segundo a curadora Catarina Carvalho, ex-diretora executiva do DN, fazem todo o sentido que decorram no café "A Brasileira", afinal "está situado numa das zonas que mais está a sofrer com a pandemia devido à ausência de turistas". Isto para além de esta iniciativa pretender "devolver o sentido cultural de A Brasileira, que se perdeu nos últimos anos".
Curioso é que este conjunto de debates seguiu uma lógica de aproveitar cada letra da palavra Lisboa para lançar um tema, inserido num manifesto de seis ideias para debater a cidade. A primeira sessão que terá a letra L como mote, versará sobre Lisboa, terá como convidado especial Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal. "E se a cidade ficasse melhor depois da pandemia?" Esta é a questão lançada para um encontro que contará ainda com a contribuição de Ana Jacinto, secretária geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Giuliana Miranda, correspondente do jornal brasileiro Folha de São Paulo, e ainda Tanka Sapkota, chef nepalês que tem distribuído refeições pelas pessoas mais afetadas pela pandemia na cidade de Lisboa.
Um debate que, devido às restrições impostas pelo Governo e pela Direção-Geral da Saúde, não contará com a presença de público, mas que será transmitido em direto pelo canal sapo.pt e também na página oficial de "A Brasileira" no Facebook, onde os interessados poderão colocar perguntas sobre o tema ou lançar ideias para serem exploradas.
Aliás, esta interatividade será também promovida nos cinco debates seguintes, que vão preencher todas as quintas-feiras de julho e a primeira de agosto: a 9 de julho sobre Inovação com Carlos Moedas (economista e ex-secretário de Estado Adjunto do Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho) como convidado principal; no dia 16 sobre Saúde e que terá a presença do imunologista Henrique Veiga-Fernandes, investigador e codiretor da Fundação Champalimaud; no dia 23 o tema será as Bicicletas com a presença de Miguel Anxo Lores, alcaide de Pontevedra que retirou os carros da cidade e a devolveu aos peões; no dia 30 o debate terá como mote Olissipo, no qual o historiador Rui Tavares vai abordar o que é preciso aprender com o passado para sair desta crise; e finalmente a 6 de agosto, o tema será a Arte numa Nova Lisboa, para o qual ainda não é conhecido o convidado principal.
Nesta iniciativa que visa de reintegrar "A Brasileira" como espaço cultural e de dinamização do pensamento, os novos proprietários do mítico café lisboeta pretendem ainda assinalar o 132.º aniversário do nascimento de Fernando Pessoa com uma exposição simbólica dos óculos do mais universal dos poetas portuguesas, que foi cedido pelo Museu do Pão. Este objeto, que se tornou imagem de marca de Pessoa, poderá agora ser visto por todos aqueles que visitarem o mais emblemático café da cidade de Lisboa.