O curioso senhor Ole
Quando vivia em Los Angeles e tinha a sorte de vender um ou outro quadro, António Ole pegava no carro e fazia-se ao caminho. Atravessava a América inteira, ia a São Francisco ver galerias, ao Colorado ver o Grand Canyon, a Nova Iorque ver museus. Um dia desaguou em Nova Orleães e era Mardi Gras. Tinha levado uma câmara, a sua ideia era subir o Mississippi para filmar como o jazz se tinha espalhado pelas margens do grande rio norte-americano. Em vez disso, deixou-se fascinar pelo carnaval. Havia ali metade de África e outro tanto de Caribe, aqueles grupos que marchavam pela rua em festa provocavam-lhe uma imensa saudade de Luanda. «Enfiei-me nos guetos negros para filmar os ensaios, mas os grupos brancos não me deixavam sequer aproximar. Quando lhes dizia que vinha de Angola, abriam muito os olhos, porque a mais famosa prisão do Sul dos EUA tem o nome do meu país.» Naquele jogo antigo entre negros e brancos fez-se luz.