O curioso senhor Ole

Às vezes, um homem precisa de se perder para perceber de onde vem. O pintor angolano António Ole, 65 anos, galgou Europa e América até encontrar África. E, depois de um encontro inesperado com David Bowie, tornou-se um dos artistas mais relevantes do continente. Ontem abriu portas uma retrospetiva da sua obra na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
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Quando vivia em Los Angeles e tinha a sorte de vender um ou outro quadro, António Ole pegava no carro e fazia-se ao caminho. Atravessava a América inteira, ia a São Francisco ver galerias, ao Colorado ver o Grand Canyon, a Nova Iorque ver museus. Um dia desaguou em Nova Orleães e era Mardi Gras. Tinha levado uma câmara, a sua ideia era subir o Mississippi para filmar como o jazz se tinha espalhado pelas margens do grande rio norte-americano. Em vez disso, deixou-se fascinar pelo carnaval. Havia ali metade de África e outro tanto de Caribe, aqueles grupos que marchavam pela rua em festa provocavam-lhe uma imensa saudade de Luanda. «Enfiei-me nos guetos negros para filmar os ensaios, mas os grupos brancos não me deixavam sequer aproximar. Quando lhes dizia que vinha de Angola, abriam muito os olhos, porque a mais famosa prisão do Sul dos EUA tem o nome do meu país.» Naquele jogo antigo entre negros e brancos fez-se luz.

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