O clube do príncipe do Brunei já jogou em três países e tem um herói português

Equipa criada no Brunei em 2000 jogou na Malásia e é campeã em Singapura. Paulo Sérgio, ex-Sporting, é a estrela do clube de Al-Muhtadee Billah
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É do Brunei, jogou na Malásia e agora é campeão em Singapura. Se estivéssemos a falar de um jogador seria um percurso normal na carreira de um atleta, mas trata-se de um clube: o Duli Pengiran Muda Mahkota Football Club (DPMM FC), leia-se Clube de Futebol de Sua Alteza Real o Príncipe Herdeiro, foi oficialmente fundado em 2000, mas já jogou em três países e acabou de se sagrar campeão da S. League, o principal campeonato de Singapura - que admite equipas do Brunei, da Malásia e do Japão, mas só em 2010 tinha tido um campeão estrangeiro (o extinto Étoile FC, de França).

Al-Muhtadee Billah, príncipe do Brunei, é o proprietário da equipa, ele que chegou a ser guarda-redes da mesma. Mas os principais obreiros deste título são duas caras bem conhecidas do futebol português: o brasileiro Ramazotti, ex-Gil Vicente, melhor marcador do campeonato, com 21 golos, e o antigo internacional sub-21 Paulo Sérgio, considerado o melhor jogador da competição, com 15 golos e 18 assistências até celebração do título. Números que, para a massa adepta do DPMM FC, até valem comparações com Cristiano Ronaldo.

"As pessoas aqui adoram futebol. No nosso último jogo, que decidiu o campeão, estavam 28 mil pessoas num estádio que leva 32 mil. Quando as pessoas começaram a acreditar mais na equipa começou a vir mais gente ao estádio", conta ao DN Paulo Sérgio, a figura da derradeira jornada do campeonato - fez três golos e uma assistência no triunfo, por 4-0, sobre o Balestier Khalsa.

Esta conquista era, certamente, inimaginável em 1994, altura em que o DPMM FC deu os primeiros passos. Não oficialmente como clube, mas como equipa de futebol universitário. A equipa começou a ganhar grande destaque a nível escolar, tanto que decidiu avançar para a criação oficial do clube. E não demorou muito a dar frutos: dois anos após ter sido fundado, o DPMM já era campeão do Brunei. A equipa rapidamente se afirmou como a mais forte do país, com cerca de 420 mil habitantes, e o Brunei tornou-se pequeno para o seu potencial.

Suspensos pela FIFA

Seguiu-se, então, a entrada no campeonato da Malásia, que já tinha uma equipa representativa do Brunei, que cedeu a sua vaga ao DPMM FC. O início foi promissor (3.º classificado em 2006/07), mas uma mudança nos regulamentos da Federação da Malásia obrigou a equipa a sair rumo a Singapura. Logo no primeiro ano, em 2009, a formação do Brunei conquistou a Taça da Liga da Singapura, ao derrotar uma das principais equipas do país (o Singapore Armed Forces, agora denominado Warriors FC), mas não teve grandes motivos para festejar - a FIFA aplicou uma suspensão de 20 meses ao clube, justificando que a mudança para Singapura não decorreu sob sua tutela.

De regresso ao campeonato em 2012, o clube foi vice-campeão logo nesse ano e em 2014 voltou a ficar no 2.º lugar. Desta vez, em 2015, conseguiu enfim chegar ao título, algo que não foi acolhido com grande simpatia pelo país. "Não foi estranho ser campeão num país diferente, mas sim muito difícil. Ninguém em Singapura queria que ganhássemos a Liga, mas com muita dedicação conseguimos esse feito. Agora a equipa joga em Singapura, mas depois vai voltar a jogar na Malásia, pois o Brunei não tem Liga profissional", explica Paulo Sérgio.

Um "cagaço" com o presidente

Al-Muhtadee Billah, príncipe herdeiro do Brunei, está longe de ser um presidente comunicativo com os jogadores. "Não é próximo da equipa, mas vê os treinos e os jogos todos em casa. No último jogo tive a oportunidade de falar com ele e ele deu-me os parabéns pelo título e pela época que fiz. Foi a primeira vez que falei com ele", sorri Paulo Sérgio, neste momento a negociar a renovação com o DPMM FC, mas sem garantias quanto ao seu futuro.

Já adaptado à vida no Brunei, pois "com a família por perto tudo fica mais fácil", Paulo Sérgio conta que, no início, não se livrou de um grande susto por causa do príncipe. "A primeira coisa que me aconteceu foi estar na estrada, tranquilo, e ouvir sirenes que vinham ao longe. Eu nem sabia o que era, vi os carros todos a encostarem, mas eu continuei na boa. De repente aproxima-se uma moto enorme, com um polícia irritado a mandar-me encostar, e eu "pronto, já fiz algo que não devia". Parei, vi mais motos e vi o carro do príncipe a passar pelo meio delas. A moto que me mandou parar passou e nunca mais o vi. Apanhei um cagaço que nem imagina", recorda o extremo, que aos 31 anos conquistou o primeiro título como profissional.

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