Serão os musicais a esperança e reconforto que Hollywood tem para oferecer após a reabertura das salas? Olhando para as previsões de calendário no inverno parece que sim. Os estúdios americanos continuam a acreditar em mais milagres como os de La La Land, de Damien Chazelle, e Assim Nasce uma Estrela, de Bradley Cooper e a rezar que não surjam mais desastres como o de Cats, de Tom Hooper..Steven Spielberg e o seu West Side Story parece ser a grande atração desta tendência, mas há mais pesos-pesados. O escapismo do próprio género do musical parece poder ser perfeito para um regresso às salas quase em sintonia com o nosso desejo de fuga ou de utopia de dançar e cantar no grande ecrã. Mas estamos em 2020 e não é nada má ideia haver uma reflexão sobre as possibilidades do formato no atual contexto de Hollywood. Haverá sempre um antes e depois de La La Land mas também é impossível não colocar em cima da mesa os reflexos do impacto de filmes como Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer ou de Rocketman, de Dexter Fletcher, biografias musicais que vão deixar sementes..Mas se este natal a América vai ter West Side Story sem modernices e com a grandiosidade de um génio como Spielberg importa também perceber como as novas audiências conseguem gerir uma história clássica e o peso do libreto de Arthur Laurents e das canções de Stephen Sondheim e Leonard Bernstein. Aquela Nova Iorque dos anos 1950 será reflexo de uma nostalgia celebrada ou puro respeito por um musical que é sempre mais conhecido pela versão cinematográfica de 1961 dirigida por Jerome Robbins e Robert Wise do que pela sua génese de espetáculo da Broadway..Para já, ninguém sabe: Spielberg ainda não mostrou o filme a ninguém e houve quem acreditasse que pudesse estar em Cannes, festival entretanto cancelado. O que se sabe é que o realizador pediu a Tony Kusher para escrever um guião que vincasse o aspeto da experiência porto-riquenha de emigração numa América impiedosamente xenófoba e alérgica ao "salero" latino. Na volta, podemos ter um musical com ressonância políticas. As primeiras fotografias mostradas em exclusivo na Vanity Fair dão pistas para uma escala daquelas que costuma encantar a Academia. Sabe-se ainda que Rita Moreno, do filme original, tem um pequeno papel e que o galã Ansel Elgort, mesmo apesar da fama de Baby Driver e A Culpa é das Estrelas, teve de ir à luta em audições em que testaram muitos atores jovens eram obrigados a dançar e cantar..O maior rival de West Side Story talvez seja Ao Ritmo de Washington Heights, de Jon M. Chu, o realizador do super sucesso Asiáticos, Doidos e Ricos. Trate-se de uma adaptação de Washington Heights, o premiado musical de Lin-Manuel Miranda, o menino-querido da Broadway. Um musical vistoso que a Warner pretende transformá-lo numa carta de amor a Nova Iorque com números coreográficos a exultar o verão na cidade e a servir uma história sobre um emigrante da República Dominicana que tenta perceber se abandona a América ou se aposta na sua "bodega". Há romance mas também um relato do orgulho latino na mais multicultural das cidades americanas..Não deixa de ser curioso que tal como West Side Story, Nova Iorque e os seus emigrante hispânicos sejam os protagonistas. Espera-se ainda que o protagonista, Anthony Ramos, que já tinha dado nas vistas ao lado de Lady Gaga em Assim Nasce uma Estrela, possa saltar em definitivo para o estrelato. Em Hollywood está tudo tão louco com este projeto que Hamilton, o outro musical de Lin-Manuel Miranda, está já em produção para estrear em 2021....Ainda sem data confirmada devido à Covid-19 temos Stardust, de Gabriel Range com o símbolo sexual do momento, Johnny Flynn como David Bowie. O filme é uma produção independente que se baseia na primeira viagem do camaleão pop pela América e como terá surgido a personagem Ziggy Stardust. A família de Bowie não terá autorizado o projeto e sabe-se que não consta na banda-sonora nenhum tema do músico. Mas se pensarmos que John Ridley conseguiu maravilhas com o "biopic" de Jimi Hendrix, Jimi: All is By My Side (2013) sem nenhum tema do artista talvez não haja necessidade de pessimismos precipitados..Biografia mais conformista será Respect com Jennifer Hudson a dar vida a Aretha Franklin. O filme de Liesl Tommy está previsto para a altura do natal e o teaser que inundou a net já faz pensar em campanha para a temporada dos prémios. A rainha do Soul tinha de ter um filme mais tarde ou mais cedo e os poucos segundos de Jennifer Hudson na sua pele causam pele de galinha. Resta saber se o marketing do seu estúdio vai conseguir evitar o efeito de nicho com a comunidade afro-americana que prejudicou comercialmente Get on Top, o "biopic" de James Brown realizado por Tate Taylor..Nesta euforia dos musicais e dos "biopics", o musical Jamie, do West End de Londres, tem também versão aprazada para a "rentrée". Everybody is Talking About Jamie é um musical que alia comédia e drama e fala de um jovem adolescente gay que no meio da homofobia gritante de Sheffield sonha ser "drag queen"..Jonathan Butterell foi o realizador escolhido para esta espécie de versão mais progressista de Billy Elliot. Quem viu o musical estará à espera da mensagem de esperança para comunidade LGBT, embora o espectáculo estivesse repleto de lugares comuns. Richard E. Grant na pele do simpático mentor veterano de Jamie deverá ter um daqueles papelões que poderá significar nomeação ao Óscar. Mas o mais "queer" dos musicais estreará na Netflix, The Prom, de Ryan Murphy, história de uma adolescente de um liceu do Indiana que luta para poder levar a a sua namorada ao baile de fim de curso. Tem Meryl Streep, Ariana Grande, Nicole Kidman e James Corden no elenco. Por aqui, o preconceito está decididamente proibido..Tudo isto provavelmente este ano, embora em 2021 se espere a biografia de Leonard Bernstein por Bradley Cooper e com produção de Martin Scorsese; a versão em imagem real de A Pequena Sereia, com a estrela de R&B Halle Baley como Ariel e, claro, Tick, Tick... Boom!, de novo Lin-Manuel Miranda à frente das operações, outra encomenda da Netflix.